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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Um dia em Estrasburgo

Após doze horas de viagem, com mudanças de transporte e transfers, chego a Estrasburgo ao princípio da noite. A viagem de autocarro (desde Frankfurt), muito descontraída, permitiu visualizar novas paisagens (o que é sempre bom). À chegada, as luzes da cidade não permitiram uma visão nítida de reconhecimento imediato. Durante o caminho até ao hotel (feito a pé), dada a relativa proximidade à Estação Ferroviária (Gare Central), tive de imediato a sensação de estar perante uma cidade “muito jovem” e pacata. No curto percurso a maioria das pessoas com quem me cruzei eram jovens estudantes (julgo).

 

Detalhes de uma casa típica no bairro Petite-France

 

A chegada ao hotel foi o momento alto do dia dado que, até aí, tudo girou em torno da logística normal de uma viagem. No hotel (All Seasons Strasbourg Gare) localizado perto da Estação Ferroviária , na Rue Maire Kuss, as cores vivas da decoração contrastavam com o branco (dominante no quarto) tornando o ambiente luminoso e aconchegante. O “quentinho do quarto” soube-me tão bem que o sono chegou sem eu dar por isso…

 

Canal e igreja no centro da cidade

  

Na manhã seguinte, depois de um excelente pequeno-almoço, muito variado, onde não faltaram os típicos croissants (ainda quentinhos) parti à descoberta daquela que apelidei de: “a minha cidade na Europa”. Munida de um mapa da cidade e de um pequeno guia turístico procuro os locais que me despertam mais atenção e à partida maior interesse. São muitos (necessitaria de várias visitas para conhecê-los minimamente). Começo por caminhar até ao centro histórico para visitar a catedral. O centro histórico é sempre uma referência em qualquer cidade. Caminho cerca de dez minutos e chego à estação do metro de superfície (o tram), a estação L´Homme de Fer. Um local muito movimentado pois aí convergem várias linhas do metro. Sigo em direção à Place Kléber. Enquanto aprecio as monstras das inúmeras lojas que ladeiam a praça, apercebo-me da dinâmica da cidade. Dos movimentos das pessoas. Do modo como se vestem. Do que falam. Cruzo-me com vários “ciclistas” os quais tocam a campainha com frequência pois esqueço-me que estou numa cidade onde a bicicleta é um dos principais meios de transporte e, por isso, distraída, interfiro com as suas “rotas”. Este é, entre outros, um hábito social que faz de Estrasburgo uma cidade limpa e sem ruídos.

 

 Place Kléber (manhã e noite)

 

 

Aproveitando o sol (ainda) brilhante do princípio do outono procuro uma esplanada (entre muitas) e delicio-me com um cappuccino enquanto escrevinho umas notas no pequeno bloco  que me acompanha sempre. Soube-me bem-estar ali a observar o mundo. É relaxante aquela cidade. Ali respira-se tranquilidade. Como aquela que senti, nas margens do rio, junto à universidade. Aí, sempre que o tempo o permite, os estudantes em grupos (ou não) fazem piqueniques ao almoço.

Continuo a caminhada, agora via Place Gutenberg e, lá está,ao fim de uma da ruas de acesso à praça, a imponente e majestosa catedral de Notre Dame de Strasbourg. No caminho, vou observando a profusão de souvenirs nos expositores das lojas que ladeiam as ruas perto da catedral. Entro no monumento e aprecio calmamente o interior. Sinto paz ali. Como aliás sempre sinto, quando entro em locais dedicados à oração e ao culto da fé.

 

 Catedral Notre Dame de Strasbourg

 

 

O périplo continua até à Petite-France, um típico bairro de arquitetura alsaciana. As casas de madeira fazem lembrar “casinhas de bonecas” perfeitamente alinhadas nas margens do rio que intersecta o bairro. Ali tudo está “arrumadinho” (costumo dizer). Há sempre muitas pessoas a passear nas margens do canal ou até de barco. Um local imperdível para quem visita Estrasburgo. Aí se concentram alguns dos melhores bares e restaurantes da cidade. Como o restaurante Au Pont Saint Martin onde acabei por almoçar algumas das especialidades alsacianas: “escargots  à L’ alsacienne”, e a “ choucroute” (repolho fermentado cozido) a acompanhar “genou de porc “ (joelho de porco fumado e posteriormente cozinhado de modo variado). Pesado (é um facto) mas muito saboroso. Nada que a caminhada da tarde não ajudasse a digerir.

 

 Detalhes do bairro Petite-France

 

Volto à estação L’Homme de Fer, entro no tram e sigo viagem até às instituições europeias (Conselho da Europa e Parlamento) situadas numa zona muito bonita, próxima do Parque L´Orangerie , um pequeno oásis na cidade. Lugar tranquilo com um pequeno zoo onde se pode passear, caminhar, ou simplesmente relaxar.

A tarde já vai longa e o regresso ao hotel impôs-se pois à noite havia jantar marcado com amigos no Chaine D´Or um restaurante próximo da Place Gutenberg, onde comi os melhores mexilhões até hoje. As famosas “moules” (que recomendo a vivamente a quem goste).

Este foi apenas um dia (entre vários) que já passei na magnífica cidade da Alsácia. Apetece voltar sempre!

 

 

 

Nota: aconselho, no mínimo, uma estadia de três dias para usufruir em pleno de uma das mais bonitas (e mais românticas) cidades da Europa.

 

License 

 

Na "rota dos sabores" (7)

“Moreanes és meu povo, a minha aldeia é Santana (…)”. Foi a recordar a conhecida canção alentejana que rumei (hoje) até ao restaurante Al andaluz (em Santana de Cambas). Depois de um breve passeio pela aldeia é chegada a hora do almoço (já tardio). Entro no espaço onde os amigos Chico e Amélia vão recebendo com simpatia (e carinho) todos os que procuram um espaço diferente, tranquilo e com qualidade, para degustar um qualquer sabor tipicamente português. Entro e, imediatamente, antevejo que ali vou sentir-me bem. Confortável diria. Uma antiga mercearia, a loja da Júlia (como lhe chamam) deu lugar a um simpático restaurante, sem pretensões, acolhedor e de grande proximidade para com o cliente, no que ao atendimento respeita.

 

Vista parcial de Santana de Cambas e Igreja

 

Nas duas salas de refeições (apenas separadas por um ligeiro arco) decoradas a preceito (e ao jeito) pelos proprietários, há móveis restaurados (da antiga loja) e que ainda hoje são úteis, como uma velhinha balança Avery orgulhosamente exposta num pequeno balcão de acesso à cozinha. Neste recanto, o responsável pelo serviço de mesa vai preparando os acepipes de entrada (queijo fresco com azeite e orégãos e um delicioso paio alentejano) acompanhados de um bom pão caseiro servido num pequeno talego (saco de pão) de linho branco (imaculado). À medida que vou sendo atendida tenho a plena sensação que vou escrevinhar sobre o assunto. O restaurante Al andaluz merece este pequeno apontamento. Pensei.

 

Detalhes do restaurante Al andaluz

 

Pouco tempo depois chega o pedido: “Bacalhau à Casa”. Uma receita (diferente) do conhecido bacalhau espiritual com um toque pessoal da amiga Amélia, a cozinheira de serviço. Bom aspeto! Excelente no sabor. Uma dose bem servida (dá para duas pessoas). No final uma mousse de café deliciosa, doce q.b. (como costumo dizer). Um café com um “miminho” da Nestlé (de chocolate claro) rematou aquela que foi uma excelente opção de almoço de domingo.

  

"Bacalhau à Casa" e "Mousse de Café"

 

Parabéns aos proprietários. Continuem a deliciar-nos com a vossa comida e o vosso carinho.

 

 

Tributo ao (meu) Alentejo

Ultimamente, dou comigo a pensar: porque gosto tanto (agora) do Alentejo? Tempos houve em que não valorizava a riqueza natural e cultural desta região. Manias da juventude! Julgo eu. Tinha uma vontade imensa de conhecer outros locais, novas culturas. Não sentia especial apego à “terra que me viu nascer” (costumo dizer). Descobrir novas paisagens, novas cidades, pessoas únicas e diferentes sempre me motivou.

Sempre que possível, rumava à descoberta de novos mundos. Conheci países longínquos (alguns), mas é aqui, no Alentejo, que me sinto Eu. Plena e realizada. Há uma magia especial nesta terra!

 

Vista a sul a partir de S. Bartolomeu do Outeiro

 

Atravesso a planície e a força da natureza entranha-se-me na pele. As cores, os cheiros, o silêncio do montado. Aqui e ali o som de uma ribeira dá o mote para o canto da cotovia, do melro ou da garça, no final das tardes. Mais além, um rebanho completa o quadro bucólico. Na primavera, a magia das aves e das flores nos campos intensifica-se e faz-me sonhar mais ainda. Nas hortas os laranjais (em flor) perfumam o ar. No verão, a noite chega de mansinho à planície (ainda) ensolarada. Discreta, a lua (cheia) beija o horizonte longínquo.

  

Esteva com flor (Cistus ladanifer)

 

Sabe-me bem escutar o silêncio da noite nos campos do Alentejo. Sinto paz interior no palco das recordações da minha infância. O Alentejo genuíno (da
tradição). Dos campos de searas e rebanhos. Do pastor de samarra e safões. Do cante alentejano. Da água fresca das fontes. Dos figos acabados de apanhar nos vales. Dos contos da minha avó (sempre com final feliz e uma “moral” qualquer).E tantas (muitas) outras lembranças que perduram na memória do tempo.

 

 Alentejo (tradicional)

 

 Um ou outro “sinal dos tempos” diz-me que o Alentejo está a mudar. É o Alentejo civilizacional (da inovação) dizem-me. Acato o argumento. Mas temo o futuro destes solos e destes campos. Que a tecnologia e o desenvolvimento (pretendidos) não alterem uma das mais belas paisagens deste planeta. Que a sustentabilidade seja o mote para manter em equilíbrio um dos mais peculiares ecossistemas terrestres.

 

É deslumbramento o que experimento na travessia dos campos deste meu (nosso) Alentejo!

 

 Alentejo (inovacional)

 

 

Nota: Foi tudo isto (e muito mais) que pude experimentar num destes dias ao regressar a casa depois de umas curtas férias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A (mágica) Quinta da Regaleira

Nunca fui grande entusiasta de ficção. Nem nos livros nem nos filmes. A fantasia nunca foi uma área que me motivasse particularmente. Talvez por isso os filmes do Harry Potter (tão apreciados), por miúdos e graúdos, nunca foram a minha perdição. A única vez que me entusiasmei a sério com a dita “saga” foi numa viagem à Escócia quando vislumbrei, numa paisagem lindíssima, o famoso viaduto de Glenfinnan que aparece no filme “A Câmara dos Segredos”.

No entanto, quando entrei na Quinta da Regaleira, um dos mais emblemáticos monumentos arquitetónicos da serra de Sintra (ainda dentro do chamado centro histórico) senti-me por momentos a personagem principal de uma cena de magia. Noutros momentos, o cenário mudava e eu fugia de uma qualquer figura fantasmagórica.

 

Vista parcial do "Palácio da Regaleira"

 

A Quinta da Regaleira teve vários proprietários mas foi Carvalho Monteiro (um notável capitalista, Licenciado em Direito, colecionador e filantropo) que a transformou naquilo que é hoje, com a colaboração do famoso arquiteto italiano Luigi Manini. Foram catorze anos de alterações e construções diversas que a tornaram num ícone arquitetónico onde impera (entre outros) o estilo neomanuelino. Decorado de forma exuberante, às vezes excêntrica, o espaço revela na perfeição o gosto pela Mitologia e o espírito eclético da época.

 

"Portal dos Guardiães"

 

Munida de um mapa para uma visita autoguiada, vou caminhando (sem pressas), apreciando cada detalhe da quinta. Das altas sequoias aos fetos (muitos), das torres às grutas, dos lagos aos poços, tudo ali tem uma dimensão “poética e profética”.

À entrada um grande portão dá acesso ao jardim, frondoso e muito diversificado em espécies (cedros, carvalhos, tílias, castanheiros, sequoias…). Um cosmos muito especial. Há recantos, muitos, onde a magia e o mistério se cruzam. São mundos distintos o que vejo. Um mundo real, com luz, cor, vida. O mundo da superfície materializado no jardim. A presença da deusa Ceres num painel de azulejos (na fachada da estufa), da autoria de L. Manini, simboliza (para mim) parte desse mundo. Nas galerias subterrâneas, o mundo do fantástico. Um mundo obscuro rodeado de mistérios. Um “mundo de tormentas” (como resolvi chamar-lhe). É esse contraste entre o real e o fantástico, a luz e a escuridão que torna o local enigmático e esotérico. Excentricidades do proprietário. Julgo.

 

"Gruta do Oriente"

 

 Sigo até ao Lago da Cascata e entro na Gruta do Oriente (uma das entradas para as galerias/percursos subterrâneos). Do teto, gotas de água vão caindo sobre a minha cabeça e eu sinto-me cada vez mais envolvida naquele mundo. O escuro amedronta-me (confesso). Preciso de luz (já). Acelero o passo e ao primeiro sinal de luz corro para lá. Eis-me no centro do Poço Iniciático (uma torre invertida que se afunda cerca de 27m no interior da terra e com acesso através de uma grande escadaria em espiral). O local é enigmático. Afinal representa um “espaço de sagração, de conotações herméticas e de alquimias” (conforme referência escrita no guia fornecido à entrada da visita). Início a subida (que devia ser descida). Apeteceu-me contrariar o normal. Afinal estava a viver a minha própria aventura por isso as escolhas seriam (e foram) em função do meu argumento fictício. Chego ao topo (no caso a base da torre) e respiro fundo. Lenta e profundamente. Ar puro. Luz. Muita luz. Para trás ficara a visão de Neptuno e de outros deuses daquele mundo obscuro…

 

"Poço Iniciático" (vista a partir da base da torre)

 

A magia das plantas e do azul do céu voltara e eu pude continuar a disfrutar do passeio pela surpreendente quinta.

Enquanto beberico um café numa esplanada da cafetaria em frente do Palácio da Regaleira, a curiosidade pela visita aumenta. Afinal ali poderia continuar a desvendar hábitos (e mistérios quiça) do célebre habitante da Regaleira...

 

 "Torre da Regaleira"

 

Vista parcial de Sintra a partir da "Torre da Regaleira"

 

 

Nota: a descrição do palácio (e seu interior) daria outra história, outro post.

Ambientes inspiradores (2)

Adoro o silêncio das bibliotecas! Ali encontro a tranquilidade necessária para ler, escrever e pensar. É nesses espaços que o pensamento voa mais longe e as palavras fluem como a água de um rio. Entro e sinto a magia dos livros e suas histórias. A biblioteca municipal de Mértola é, para mim, um desses lugares mágicos e inspiradores. Longe das masmorras de outrora (ali funcionou o antigo estabelecimento prisional), sob a abóbada da sala superior, rodeada de mil livros, escrevinho mais e mais. Há uma paz especial ali. A arquitetura interior, bem aproveitada, torna a maravilhosa “casa dos livros” num espaço aprazível que acolhe cada vez mais visitantes de todas as idades.

 

 

Pormenor da sala de entrada da biblioteca

 

Em tempos, apenas a "biblioteca itinerante" permitia à maioria das crianças, jovens e adultos o acesso a outros livros para além dos escolares. Ainda me lembro da velha “carrinha cinzenta” da Gulbenkian, estacionada junto ao “posto da eletricidade” (espaço em frente ao atual café Estaminé), com a porta traseira aberta através da qual com a ajuda de uma escada amovível (julgo) se entrava no exíguo espaço interior. A presença da "biblioteca" era motivo de alegria para a pequenada. Um atração diria. Nas estantes laterais, bem alinhadas, exibiam-se as obras disponíveis para requisição. Na altura, a minha grande paixão eram os livros dos “cinco” e dos “sete”. Belas histórias com as quais fantasiei vezes sem conta. Revi-me nalgumas, noutras nem por isso.

 

 

 Escada de acesso ao piso superior

 

 

Detalhes do piso superior

 

Hoje, para alguns (sobretudo os mais jovens), a biblioteca facilita, também, o acesso livre às redes sociais e à internet em geral. Outros há, que na sua passagem para o casco histórico aproveitam para dar uma espreitadela rápida. Além desta vertente da leitura, a biblioteca funciona, frequentemente, como espaço para a realização de diversos eventos (alusivos aos livros e à escrita em geral).

Sabe-me sempre bem voltar aqui! Para requisitar mais uma obra literária e usufruir (também) de um espaço tão agradável.

 

 

 Fachada exterior do edifício da biblioteca

 

Nota: o ambiente e o atendimento (quase sempre personalizado) fazem deste espaço uma das minhas bibliotecas preferidas.

Na "rota dos sabores" (6)

Há quem diga que “não há coincidências”. Também eu o digo. Todavia, há acontecimentos que por inéditos ou improváveis (nalguns casos) adquirem o estatuto de incomuns. “Raridades” como gosto de lhe chamar. Foi assim, num destes dias (em jeito de fim de férias), que dei comigo a comer “cozido à portuguesa” no primeiro e no último dia de uma saída cá dentro.

No primeiro dia a opção (antecipadamente pensada) recaiu sobre o cozido do restaurante Canal Caveira, uma casa sobejamente conhecida de grande parte dos portugueses. Ou, pelo menos, conhecida de todos aqueles que no verão rumavam a sul por alturas de julho e agosto. Ainda me lembro das longas filas de carros que por ali se alinhavam estrada fora. Na altura (anos noventa), costumava parar ali para comer uma deliciosa “sandes de carne assada” que naquele local me sabia ainda melhor. Hoje em dia, e sempre que tenho tempo, faço um desvio e lá vou eu degustar o dito cozido (apesar dos ” remorsos”, à posteriori, pela ingestão da dose extra de calorias).

 

 

 

O "pecado" no restaurante Canal Caveira

 

Férias quase terminadas e eis-me de regresso. O dia tinha amanhecido cinzento mas morno. O itinerário, pouco atrativo (acho) no que à paisagem respeita, tinha sido pensado em função do objetivo daquele dia: visitar o museu da Lourinhã (um museu de paleontologia, arqueologia, arte sacra e etnografia). Fazia tempo que desejava conhecer a região (e os vestígios) de alguns dos “gigantes do jurássico e cretácico” que por lá viveram há vários milhões de anos. Foi esse “período” da Geoistória que me atraiu até à Zona do Oeste.

 

 

 

Secção de paleontologia do museu da Lourinhã

 

Visita terminada e rumo a sul. Atravesso a Zona Oeste em direção à serra de Montejunto. Nada motivou a minha paragem. Campos lavrados, cultivados, macieiras em flor, casas vulgares (iguais a muitas). A monotonia da paisagem chegou a causar-me nostalgia. Não podia sentir-me assim. Pensei. Afinal tinha acabado de passar uns dias maravilhosos.

Entro finalmente na zona da serra de Montejunto. A paisagem muda totalmente. O cheiro intenso e fresco do eucaliptal do sopé acordou-me da letargia do pensamento e deu-me energia suficiente para apreciar o ambiente. Subi ao miradouro e apreciei o horizonte longínquo. Uma volta a pé e decido começar a procurar um sítio para comer.

 

 

Vista norte a partir do miradouro da serra de Montejunto

 

Opto por continuar viagem pois alguém me diz que por ali não se come muito bem.

Voltas e reviravoltas e chego à Abrigada (uma povoação nas faldas da serra) junto da encosta sudeste. Aqui encontro a adega típica “Chico Pequeno”, assim chamada porque o primeiro proprietário era um “homem pequenino” (segundo me disseram). E lá estava eu a comer, outra vez, “cozido à portuguesa” (o prato do dia) pois o apetite era grande e não havia paciência para esperar mais. Acabei por comer (apenas) uma sexta parte da dose, tal era a riqueza (e quantidade) das carnes do dito.

 

 

 

Detalhes da sala da adega "Chico Pequeno"

 

Nota: durante a degustação do "cozido" na adega "Chico Pequeno" escrevinhei (mentalmente) este post. Coincidências, pensei.

Simples mas muito cosy!

Naquele dia a chegada ao alojamento, a residencial Vinnus, não se revestiu do entusiasmo e da curiosidade ditas comuns. Confesso. Havia qualquer coisa naquela fachada, igual a tantas outras, que me deixou circunspecta e algo receosa (diria). Seria acolhedora? E o quarto? Seria confortável? Enfim, questões e predicados comuns entre os viajantes (normais).

 

 

 

Vinnus Residencial (rua Prudêncio Franco da Trindade, Ericeira)

 

Entrada feita e a receção (de tão acolhedora) deixou-me logo mais descontraída. Vou aguardar. Pensei. A senhora da receção foi de tal modo amável no trato que me senti em casa. Check-in feito e eis-me a abrir a porta do quarto. Surpresa. Um quarto não muito grande mas muito acolhedor. Um ambiente muito cosy (como lhe chamei). Uma decoração intimista, sem grandes luxos, mas que proporcionou o bem-estar desejado.

 

 

 

Senti-me uma “escritora” em viagem. Sem pretensão a tal, mas a pequena secretária junto a uma das janelas convidou-me a escrevinhar desde logo (e ainda mais).

Afinal a impressão à chegada dissipou-se rapidamente pois a Vinnus é uma hospedaria simples, no centro da Ericeira, mas com o conforto de um lar e uma enorme simpatia no acolhimento. Um quarto “alegre” e com muita luz (duas janelas). A pequena kitchnet (toda apetrechada) não foi necessária mas é útil, sobretudo, para casais que viajam com crianças.

 

 

 Detalhe da escadaria de entrada

 

 

 Detalhes da entrada

  

 

Nota: Gostei! E recomendo a quem não queira gastar muito dinheiro no alojamento mas, ainda assim, deseje ficar bem instalado e com conforto q.b.

 

 

 

 

 

 

 

Ericeira (o regresso)

Voltei (antes do tempo)! Mais cedo do que porventura imaginei. Estou de volta à “terra dos ouriços”. Mal cheguei (pousadas as malas) e foi tempo de reavivar memórias, constatar mudanças (ou não). Perceber a passagem dos anos.

 

 

 Ericeira (vista parcial)

 

 Afinal, o azul da Ericeira lá estava nas floreiras, nas barras das casas e das fontes. Há mais esplanadas em ruelas escondidas. Agradáveis (parecem-me) e onde apetece ficar a tagarelar com amigos ou simplesmente a olhar o nada.

Depois de um passeio a pé pelos recantos da pequena e pitoresca vila acabo a tarde numa esplanada da praia da Baleia, a aproveitar o sol magnífico desta primavera envergonhada. Ali permaneço a observar a imensidão do mar. As ondas, de um azul intenso, arrebatam a areia e tecem com ela novelas de conchas e outros seres marinhos…

 

 

Casa Típica

 

 

Entrada Discoteca Ouriço

 

No regresso ao hotel ainda tenho tempo para apreciar a montra da boutique da Tia Lau, uma simpática senhora que, enquanto me mostra umas peças de roupa, me vai explicando que gosta muito do “meu” Alentejo onde tem amigos. A roupa da Tia Lau faz lembrar os dias de praia, as noites de verão. Uma perdição de cores, texturas e modelos. Atrativa e atrevida (diria). Trouxe comigo umas peças para anunciar o verão (já).

À noite, enquanto caminho calmamente pela rua, na montra de uma pequena galeria de arte, uma escultura representando uma figura humana capta-me a atenção por breves instantes. Entro. O dono (suponho), um homem simpático e eloquente, explica-me na perfeição a origem das peças expostas. Observo e questiono acerca do artista responsável pela maioria das obras. Artur Varela. Responde-me o galerista. Um alentejano (de Almodôvar). Apesar do interesse, agradeço e saio à procura de um restaurante que me sirva um bom peixe como se exige numa terra do litoral.

Acabo no Mar D´Areia, um restaurante junto à Praça da República (no centro da vila) onde o peixe, muito fresco, ainda cheira a mar. Boa escolha. Pensei.

 

 

Restaurante Mar D'Areia

 

Na manhã seguinte, no café Central (há quase sempre um café Central em todo o lado), enquanto beberico um café, tranquilamente, vou-me entretendo a observar os movimentos matinais dos que por ali passam. Imagino histórias, questiono origens. E fico com a certeza de que a Ericeira está mais jovem, mais azul, mais atrativa.

Saio (em direção a norte) mas ainda tenho tempo para dar uma espreitadela à praia de Ribeira D´Ilhas. Do miradouro sobranceiro avisto um grupo de surfistas que desafia as ondas em piruetas múltiplas. São eles que, num rodopio constante, dão mais vida e mais cor à Ericeira. São parte dela.

 

 

 

Praça da República

 

Praia de Ribeira D'Ilhas
É neste registo que parto com a certeza de querer voltar (sempre).

 

 

 

 

 

Na "rota dos sabores" (5)

Numa das minhas estadias por Sintra, já de saída, estacionei numa rua banal. Igual a tantas outras. Procurava um restaurante. A expectativa era baixa pois a experiência gastronómica no centro histórico da magnífica vila não tinha `(na altura) sido a melhor. Além disso, o adiantado da hora (quase duas da tarde) não permitia uma procura cuidada e criteriosa. O que mais desejava era satisfazer a fome rapidamente.

Estacionada a viatura e eis a placa indicadora daquele que, ao primeiro olhar, me convidou a entrar. D. Pipas, um restaurante sem luxos, fora do centro histórico mas próximo do mesmo (junto à estação dos comboios).

 

 

Entro e observo rapidamente o ambiente. Parece-me limpo, acolhedor, agradável à vista. O dono (suponho) um Homem do Minho, simpático, de trato fácil, aborda-me e informa-me dos pratos do dia. Opto por umas “petingas fritas com migas de tomate”. Excelente escolha. Comida “caseirinha” (como costumo dizer). Que bom! Exclamei. Finalmente boa comida (e não comida para “turista”).

 

 

(Deliciosas) petingas com migas de tomate

 

Costumo ser exigente com a comida. Talvez seja um defeito (nalguns casos) ou talvez uma grande virtude (noutros) de quem aprecia os verdadeiros e puros sabores lusitanos. De quem se habitou (desde sempre) a sentir o aroma dos alimentos e a “brincar” aos cozinheiros. Por isso, refiro, quem faz parte da minha “rota dos sabores” foi (e é) para mim especial. Perdoem-me todos os que, em muitos casos, são também referências gastronómicas deste (nosso) cantinho. Preciso de avaliar com os cincos sentidos (e mais algum) para escrevinhar sobre o assunto.

Reparos à parte e o repasto terminou com um maravilhoso “arroz doce”, cremoso (como eu gosto).

 

 

 

 D. Pipas (vista parcial da sala do restaurante)

 

Nota : a quem passar por Sintra, recomendo o D. Pipas. Um restaurante tradicional com qualidade e muito profissionalismo.

 

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