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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Por veredas... até à vila

 Ontem, a propósito da feira de S. Mateus, lembrei-me do tempo em que as pessoas das aldeias em torno de Mértola tinham de andar a pé durante uma, duas ou mais horas para chegarem à sede de concelho, onde faziam as suas compras.

  Não muito longe daqui, num pequeno monte conhecido por monte do "Ti Guerreiro” vivia um casal de meia-idade, sem filhos, cujo sustento se baseava – quase exclusivamente - nos recursos provindos das atividades ligadas à exploração da terra e criação de animais. 

 Certa vez - a convite da “Ti Florinda” (a esposa) - fui visitar o dito monte com a minha mãe e a minha avó materna. Na pequena casa rústica - feita de taipa e despida de luxos - apenas as abóboras, os frutos secos (figos e amêndoas) e o pão acabado de cozer no velho forno de lenha, saltavam à vista (e a todos os sentidos). Lembro-me – nomeadamente – dos cheiros que inundavam a casa… e da sensação de solidão e isolamento que senti naquele lugar que apelidei de “monte dos vendavais” - talvez por ser um lugar extremamente árido e ventoso.

 Longe de tudo e de todos - somente os habitantes do povoado mais próximo – a Corte Pequena - levavam notícias do Mundo (e alguma agitação) à vida daquele casal. Era ali que os ditos habitantes embarcavam no pequeno bote do “Ti Guerreiro” - ancorado no rio junto ao desfiladeiro - para fazer a travessia até à outra margem do Guadiana.

 Seguia-se uma longa caminhada (de cerca de sete km) por trilhos íngremes, em ritmo de sobe e desce, até à vila, onde se abasteciam das mercearias essenciais para quinze dias ou um mês - conforme as necessidades. À tarde, já de regresso, o cheirinho do café moído e do bacalhau, embrulhados em papel pardo, tresandava à distância… e eu, a brincar na varanda da minha avó, assistia à chegada um a um dos residentes de Corte Pequena, que ali paravam para beber água fresca ou (simplesmente) descansar entre um pé de conversa.

 De todos recordo-me, sobretudo, do “Ti Chico Rodrigues”, o velho taberneiro da aldeia. Talvez por ser aquele que transportava às costas o volume maior: um saco de pano pejado de géneros alimentícios e tabaco e nas mãos dois garrafões de vinho – os velhos garrafões de vidro revestidos com verga. Aparentando ser um homem mais velho do que na realidade era, tinha agilidade e força suficientes para transportar até casa o carregamento das compras por caminhos longos e penosos.

 Tempos difíceis, de homens e mulheres que sentiram na pele a ausência do progresso e do desenvolvimento… Vidas simples, repletas de sacrifícios e privações, mas felizes (segundo consta).

 

 

 

Ambientes inspiradores (6)

 Acordei (hoje) como uma “princesa”: num quarto magnífico, com vista para uma paisagem soberba e uma tranquilidade envolvente para além do habitual. Uma manhã digna de registo, como é digno de referência o Hotel Museu (em Mértola).

 

 

 Sempre imaginei começar o dia aqui (e assim): com sol, a neblina matinal sobre o rio e muita tranquilidade.

 Foi em modus relax total - e rodeada de beleza natural - que o meu dia se iniciou no hotel da vila museu. Um dia de outono (diferente): com muita luz e muito brilho. Um momento verdadeiramente inspirador, num ambiente muito clean - de decoração intemporal - onde o bom gosto e o conforto imperam.

 

 

 Disfrutar desta magnífica unidade hoteleira é (também) revisitar épocas remotas: uma forma de recuar ao tempo dos domínios árabe e romano.

 O hotel alberga um núcleo museológico: o denominado “Arrabalde Ribeirinho” - uma pequena aldeia islâmica cujo espólio, hoje patente ao público, foi descoberto durante a construção das fundações do edifício. O pequeno “recinto” – onde as ruínas se localizam – situa-se no andar inferior do hotel mas é visível a partir da receção.

 

 

 Para além disso, a envolvente natural – com o rio Guadiana a marcar presença forte - e o enquadramento (e aproveitamento) arquitetónico do espaço em questão geram uma ambiência única, merecedora de destaque.

 Aqui tenho tempo no Tempo! Da varanda (do quarto) vislumbro o rio - correndo de mansinho. Aqui e além um canoísta pintalga de cor o velho curso de água. Enquanto isso, as aves chilreando - nos arbustos ribeirinhos, embalam-me para universos de sonho... 

 Há uma tranquilidade especial neste hotel: somente os sons da natureza invadem o espaço, transportando descontração e bem-estar. Apetece permanecer aqui e “beber um café comigo mesma”.

 É assim, neste espírito Zen, que os dias começam (e acabam) no hotel que também é museu.

 

 

 

Nota: para além dos espaços físicos, o hotel disponibiliza (também) uma série de atividades náuticas e de contato com a natureza colocando à disposição dos clientes, canoas, caiaques, bicicletas e passeios no rio numa pequena embarcação. Para além disso, os amantes da natureza e do birdwatching encontram (sempre) nas redondezas diversos pontos de interesse.

 

(o meu) tributo ao outono

Chegou o outono e com ele as folhas caídas no chão. Folhas mortas – de mil tons!

Folhas caídas que o vento leva...

Existências breves - de regresso às origens - transportando sonhos (desfeitos)! Vidas que acabam com o tempo… tempo de dias curtos e cinzentos - às vezes nostálgicos.

Não gosto do outono. O défice de luz e de brilho nos dias transtorna e agita as almas mais irrequietas. Apetece avançar no calendário: ir mais além e permanecer na primavera dos sentidos… Enquanto isso, vou saboreando momentos que a Vida me oferece: momentos únicos salpicados de Amor e Sonhos.

 

 

Na "rota dos sabores" (11)

 

 

 À primeira vista, ou melhor, à primeira leitura da placa sinalizadora do restaurante “O Brasileiro” (em Mértola), qualquer pessoa - menos atenta - pode ser induzida em erro. Efetivamente não se trata de um restaurante de comida das “terras de Vera Cruz”, mas sim de um espaço dedicado à cozinha tradicional portuguesa - no caso, cozinha regional alentejanacom destaque para as “especialidades de caça”.

 No espaço gastronómico, composto por duas salas, ressalta à vista o painel de azulejos da autoria de António Duro. Uma peça decorativa ilustrativa da “vila museu” e da fauna cinegética local; o cartão-de-visita da sala mais interior (diria). Noutra sala (mais externa), as largas vidraças transportam-nos para a paisagem envolvente… No geral, um espaço apetecível que convida a Estar e a Apreciar as delícias gastronómicas que ali se cozinham.

 

 

 Da “perdiz de escabeche” ao “estufadinho de javali de montaria”, das “migas de espargos verdes com secretos e/ou plumas de porco preto” à “açorda de perdiz”, entre outras mais, tudo no cardápio aguça o paladar…

 A variedade das iguarias - onde a qualidade dos produtos impera e as tornas únicas – dificultou a escolha: “migas de espargos verdes com secretos de porco preto” acompanhados de um bom vinho tinto. Para terminar um dos doces que compõem a igualmente variada (e apetitosa) lista de sobremesas: “sericaia com ameixas de Elvas”. No final, a certeza de uma refeição única e com uma excelente relação qualidade preço. Recomenda-se(sem dúvida).

 

 

Nota: o restaurante “O Brasileiro” é já (hoje) uma referência na gastronomia do Alentejo, sobretudo, no que às “especialidades de caça” diz respeito.

 

 

 "migas de espargos verdes com secretos de porco preto"

 "estufadinho de javali de montaria" 

 "sericaia"

 

A “mala delas”…

Quando alguém refere os termos: mala e/ou carteira (de senhora), a dúvida instala-se. Afinal diz-se carteira ou mala?

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/mala [consultado em 18-09-2014], aqueles conceitos são sinónimos; podendo ler-se a seguinte definição para mala: “Bolsa de mão, geralmente usada por senhoras para transportar documentos e pequenos objetos de uso quotidiano = carteira”.

Aparentemente a confusão existe - meramente - por razões de forma e conteúdo. A maioria das pessoas diz mala. Distinguindo diferentes tipos de malas de acordo com o conteúdo e o uso dado aos mesmos: mala de senhora, mala de viagem, mala do carro… etc. Noutros casos, a designação deriva de motivos sociais (e culturais): as “elites” dizem carteira, o “povo” diz mala.

Definições e conotações à parte, seja “mala” ou “carteira”, sempre que nos referimos ao dito objeto - a “mala delas” (como lhe chamam os homens), as palavras são diferentes mas o significado e o conteúdo são os mesmos.

E no que ao conteúdo respeita: a confusão é ainda maior.

Sempre que o telemóvel toca e não está no sítio certo, o caos instala-se e a tormenta levanta-se. Procura aqui, ali, acolá. Entretanto já desligaram e a busca continua. Bolsas e mais bolsas saem do interior da “mala”… uma parafernália de uso pessoal - supostamente útil. Tudo serve para colocar dentro da dita: agenda, livros, bloco de notas, canetas, lápis, cremes, perfume, caixas de óculos, porta-chaves, fraldas, etc…

 Resultado: peso excessivo – prejudicial à postura corporal – e uma confusão desnecessária que dificulta o acesso a qualquer objeto no imediato. Então se o acesso for alheio, a coisa complica-se ainda mais e o outro confronta-se (sempre) com a questão: “Onde estará?” Se for homem fica com os “nervos em franja” e a cada investida - durante a procura - vai praguejando de irritação.

(Que fazer? Evitar malas demasiado grandes. Poupa-se a coluna e evitam-se constrangimentos desnecessários.)

 

(No mundo dos) Blogs…

Atualmente a palavra blog anda na boca de muita gente. Mesmo daqueles que, embora avessos às novas tecnologias e afins, precisam de alimentar o ego, a curiosidade e, até, alguma necessidade específica. Quando o termo Blogosfera surgiu - pela primeira vez -, a estranheza e o mistério subjacentes instalaram-se. Todos desejavam perceber o verdadeiro significado daquele neologismo e alguns aventuraram-se criando espaços virtuais de partilha: os blogs.

Com o tempo, a evolução dessa comunidade virtual conduziu à banalização do conceito. Hoje, já todos ouviram falar de blogs. Há-os para todos os gostos e necessidades. Mais ou menos privados, para venda de produtos e serviços, ou simplesmente para partilhar emoções e sentimentos. Há quem aproveite essa espécie de “diários online” para opinar sobre os mais variados assuntos e, assim, proceder à catarse dos seus problemas pessoais (e não só). Os blogs são: autênticos pontos de encontro de mentes ávidas de ser lidas; uma porta aberta ao diálogo e aos comentários alheios; uma forma de estar conectado ao Mundo - cada vez mais virtual e “solitário”.

Apesar do conhecimento acerca do assunto, ainda há quem se refira aos blogs como locais de “conversas da treta” e aos bloggers como “pessoas sem nada para fazer”. Preconceitos. Sem dúvida.

Considero estes espaços virtuais, verdadeiros instrumentos de partilha de conhecimento. Um conhecimento empírico - na maior parte das vezes - é certo, mas ainda assim útil o suficiente para ser considerado.

A diversidade de informação disponível nestes espaços virtuais é verdadeiramente impressionante. Às vezes alucinante mesmo. Cabe a cada um de nós selecionar essa informação, de acordo com os nossos interesses. É isso que procuro: seguindo “uns” e não “outros”.

 

 

Nota: no meu caso, escrevinhar dá-me imenso prazer. Aliás, sempre deu. Deambular pelas palavras é fascinante. É (sobretudo) durante as férias (e à noite) que esse ritual acontece com mais frequência, dando origem à “escrita” sensitiva e intimista que partilho aqui.

 

A "glória" de Espanha

A propósito do quarto centenário da morte de El Greco - o artista de Toledo, veio-me à memória a magnífica cidade espanhola.

Caminhar naquela que é uma das mais belas cidades património da humanidade é viver a História ao vivo… lembrar estilos e escolas da Arte mundial. Não foi por acaso que Cervantes a descreveu como: “a glória de Espanha”.

Da catedral ao Alcázar e deste ao Zocodover (a praça central), todos os edifícios (e espaços), em perfeito estado de conservação, apelam a uma visita. Entrar significa crescer mais um pouco enquanto pessoa. Ali, a sabedoria dos homens que fizeram história entranha-se e projeta-nos para tempos remotos. Apetece beber aquela cultura milenar… perceber as motivações subjacentes a cada obra, compreender o(s) artista(s) na sua essência.

Toledo é Arte na verdadeira aceção da palavra. Cada “Porta de Entrada” tem uma história para contar. Entrar significa imbuir-nos de cultura. (uma visita recomendável!)

 

 

 

Setembro dos (re)começos…

 

 A chegada de setembro lembra-me, habitualmente, o outono. Apesar dos dias (ainda relativamente longos e quentes), a luz e o brilho do sol são diferentes. Uma opacidade ténue ensombra os dias tornando-os mais cinzentos… e mais apáticos.

É tempo de regressos e (re)começos, de ensaios e renovações. Tempo para inovar e/ou criar novos projetos de vida. Para alguns, o princípio de um novo ciclo.

Neste período pós férias, a vontade e o ritmo de trabalho individual (e coletivo) adquirem uma dinâmica acrescida. Na esfera pessoal, este é (também) um mês de “planos de treino” e de alterações no regime alimentar. Há uma vontade eminente em seguir novo rumo… uma espécie de remissão dos excessos cometidos no mês de agosto.

Pessoalmente, sempre considerei este mês o começo de um “novo ano”. Um defeito profissional. Julgo. Por coincidir com o início do ano letivo tem um efeito renovador: novas caras (nalguns casos), novos projetos, novos ritmos… Tudo contribui para o entusiasmo - com cheirinho a outono.

Depois as rotinas instalam-se e com elas a monotonia do tempo das folhas caídas, da estação sem cor nem ritmo, que afeta a alma no seu âmago. Há lugar à melancolia e (frequentemente) nuvens de pessimismo surgem, sem darmos conta, e às vezes magoam… Cabe a nós ultrapassar a tormenta, vivendo um dia de cada vez. Saboreando momentos: como apreciar o luar numa noite de lua cheia em plena natureza… tão simples, mas único.

 

 

 

A propósito de Virtudes… (e desvirtudes)

Há pessoas com as quais apetece (mesmo) privar. Detentoras de uma simpatia e humildade incomuns cativam, facilmente, todos com quem se cruzam. Sempre admirei pessoas assim! Acredito que a educação e a cultura familiar tenham condicionado - fortemente - esta forma de estar (e de aceitação do Outro).

Numa sociedade em mudança constante, as virtudes humanas escasseiam cada vez mais. E, as que restam são colocadas à prova (constantemente). De que servem: a instrução e os graus académicos, a riqueza e o património, sem a dose certa de humildade? Sem “a virtude das virtudes” não conseguimos atrair à nossa esfera individual, pessoas simples no trato mas ricas no Ser e no Estar.

Aflige-me (cada vez mais) a arrogância e a indiferença humanas. E, mais ainda, se a tudo isso adicionarmos uma dose significativa de vaidade e pedantismo. Já dizia Miguel de Cervantes: “A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja.”

Felizmente, tenho no meu círculo de amizades, pessoas humildes e bem formadas. Pessoas com coração grande. Pessoas resolvidas e de bem com a vida. Mas, também é verdade, já me cruzei com a maldade e a arrogância doentias. Patologias estruturais (como lhe chamo).

Tudo veio (hoje) a propósito do atendimento (e acolhimento) que sempre tive no consultório da minha Ortodontista: uma Senhora, na verdadeira aceção da palavra, que alia o seu talento e profissionalismo a uma dose de simpatia e humildade fora do comum. Obrigada (para sempre) Doutora Sónia Alves.

Ambientes inspiradores (5)

Da rua vislumbro o painel das flores de rosmaninho e as garrafas (de licores) estrategicamente expostas. Que apelativo! Pensei.

 

  

Aquela vista arrebatou-me os sentidos e impeliu-me a escrevinhar… Mértola é isto (também): local de espaços inspiradores (requalificados), como a “loja da terra” - mais conhecida por "loja da D. Silvana".

Ali no centro do burgo - em pleno Largo Vasco da Gama -, às portas da muralha, encontro a pequena loja gourmet. Pequena no espaço, grande no conteúdo. Do pão aos queijos, dos chás ao mel, dos vinhos aos enchidos, todos os produtos locais (e alguns regionais) têm ali o seu “cantinho”.

 

 

 

 

Meticulosamente arrumados pelas mãos dos proprietários (a D. Silvana e o Sr. Eduardo) os produtos selecionados saltam à vista dos visitantes e de todos aqueles que, diariamente, lá procuram o pão do Beto - acabadinho de sair do forno...

 

 

Nota: a todos os visitantes (e não só) recomendo a passagem. Um local onde apetece provar (e comprar) de tudo!

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