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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Questionar a Vida

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 Qualquer um de nós, nalgum momento da sua (breve) existência, já questionou o “destino”. O que quero? O que não quero? Para onde vou? As questões surgem, quase sempre, no contexto dos chamados maus momentos. Nessas alturas a introspeção impõe-se, pois a resposta está (quase sempre) em nós. O que queremos da Vida deve ser uma opção pensada unilateralmente, embora tenhamos tendência a culpabilizar os outros por tudo o que nos acontece. Por norma imputamos aos outros as causas dos nossos erros, das nossas “desgraças”. Uma atitude errada e pouco consentânea com o nosso desenvolvimento pessoal.

 É na idade adulta que estas perguntas (sem resposta imediata) surgem com maior frequência. As vivências são maiores - e a maturidade, também – despoletando uma análise introspetiva mais rigorosa, porque o filtro da razão está mais apurado; as emoções são, também, mais facilmente controladas. E quando necessário: o racional supera o emocional. Mas, ainda assim, as questões surgem e as dúvidas instalam-se - frequentemente.

 Seja qual for a razão dos acontecimentos - que marcam a nossa existência, somos nós que decidimos o rumo da nossa história de vida.

 Somos fruto das nossas circunstâncias. E como dizia Lamarck: as “circunstâncias” mudam e os seres sentem “ a necessidade de se adaptar”, face às alterações. Se, no turbilhão das adversidades, conseguirmos adaptar-nos, daremos mais um passo na nossa evolução pessoal. Para isso é preciso: parar, analisar e optar. Tudo isto pressupõe vontade e desejo de Crescer. Somos nós que decidimos se passamos pela Vida ou, pelo contrário, vivemos a Vida.

 Costumo dizer: há pessoas tranquilas da Vida e pessoas desassossegadas da Vida. As primeiras, nalgum momento da sua existência, pararam para pensar e optaram pelo percurso certo: um caminho onde reina a vontade de vencer, a harmonia de espírito e o respeito por si mesmos (e pelos outros); as segundas são pessoas cujo universo onde se movem está repleto de agitação espiritual. A sua existência - caracterizada pela intranquilidade - não lhes permite parar para Pensar. Vivem num mundo de desejos materiais (e imateriais) e a insatisfação geral é, normalmente, o seu lema de Vida.

Vale a pena pensar nisto? Julgo que sim. Questionarmos o nosso Eu é, também, uma forma de Crescer.

Utopias (dirão alguns). Pontos… de vista (digo eu).

Uma “viagem” ao mundo dos rios

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 No “aquário gigante” o pequeno peixe, imóvel, confunde-se com o substrato arenoso. Disfarçado por entre os detritos, o verdemã – espécie do curso superior dos rios - constitui um dos muitos exemplares da ictiofauna, que pode ser encontrado no Fluviário de Mora.

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 A viagem ao longo do “rio” acabara de começar. O entusiasmo subjacente crescia. Visualizar e compreender a natureza gera (em mim), por norma, bastante interesse. Para além disso, possibilita a aquisição de conhecimentos adicionais úteis, os quais se podem utilizar (mais tarde) para proveito próprio ou na nossa intervenção cívica.

 O projeto - que já atraiu milhares de visitantes, desde a sua abertura – possibilita o contato direto com espécies muito diversificadas no seu ambiente, para além de outros aspetos didáticos, de importância extrema, para alunos (e não só) dos diferentes níveis de ensino.

 Ali podemos encontrar os habitats específicos dos vários cursos de um rio e respetivos seres vivos, a maioria destes pertencente à superclasse Peixes. Destes, destacam-se algumas espécies já desaparecidas dos rios portugueses - como o Esturjão, para além de outras que, apesar de não correrem risco de extinção, são importantes para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas onde vivem.

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Perca-Sol (Lepomis gibbosus)e Chanchito (Australoheros facetus)

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Carpa vermelha (curso médio do rios)

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Raia (zona da foz dos rios)

 Noutro sector do fluviário podem ser vistas (também) outras espécies que vivem em ambientes de água-doce, noutros locais do planeta: bacia amazónica e grandes lagos africanos.

 Para além disso há exposições permanentes (e temporárias) interativas, jogos e outros requisitos lúdicos para entreter miúdos e graúdos.

 No final uma certeza: valeu a pena a visita ao mundo fabuloso dos rios.

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Discos (Symphysodon spp.) da Bacia Amazónica.

 

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Piranha-vermelha (Pygocentrus nattereri) da Bacia Amazónica.

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Peixe-Gato (Synodontis ocellifer) de Lagos Africanos

 

 Nota: após a visita (e para quem goste) pode aproveitar o parque de merendas para um piquenique em família ou fazer uma caminhada ao longo da ribeira, para observação de aves.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O “velhinho” Café Guadiana

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 Mesmo ao lado da muralha - na entrada para o centro histórico da vila de Mértola - o velhinho (mas sempre renovado) café Guadiana vai resistindo à evolução dos tempos.

 Da esplanada - no terraço sobranceiro, sente-se o pulsar do burgo: quem passa - na estrada; quem entra e quem sai da pequena loja gourmet - na esquina em frente; quem chega e quem parte do largo. Estrategicamente localizado, o emblemático estabelecimento marcou a vida social da vila museu, sobretudo, durante a segunda metade do século XX.

 Embora exista um movimento típico no largo Vasco da Gama - que dinamiza e agita o sítio - nada se compara aos cenários de outrora: aqui chegavam os velhos autocarros da Eva e da Rodoviária - que asseguravam o transporte para outras regiões, ali se situava a praça de táxis e a maioria dos estabelecimentos comerciais mais relevantes na altura.

 Havia azáfama nas horas da chegada e da partida… e o fumo negro dos escapes entranhava-se e cheirava à distância. Por entre a nuvem de gases, deambulando entre um cigarro e um “copo de três”, o velho Faxenita- figura típica, animava as conversas e incutia-lhes a novidade desejada. Nada ficava no segredo dos deuses depois de chegar aos ouvidos do velho moço de recados.

 Por entre o alvoroço - junto à antiga paragem dos autocarros, o pregão dos gelados Nicolau entoava nos ouvidos dos transeuntes. Aqui e além uma ou outra criança - puxando as saias da mãe - lá alcançava o desejo: comer um “gelado de baunilha com cobertura de chocolate” (o mais apetecido de todos).

 Enquanto na rua a agitação das gentes se fazia sentir, no interior do café o tempo decorria a outro ritmo. Um tempo tranquilo e mais direcionado para notícias do dia. Entre uma ou outra coscuvilhice, uma ou outra brejeirice, os homens – principais frequentadores do café naquela época - trocavam ideias e teciam negócios com cheirinho a café e bagaço. Um cenário dos filmes de Copolla, numa atmosfera de aromas… persistentes - até hoje, na minha memória.

 Havia cadeiras e mesas estrategicamente colocadas - de frente para a porta de entrada, para uso exclusivo da elite local. Diz-se, até, que um certo senhor abastado teria ali a “sua cadeira” e que ninguém ousava lá sentar-se. Outros tempos, outras mordomias.

 O tempo passou e alterou a história. Hoje - apesar do ritmo social ser outro, há temáticas que continuam a gerar verdadeiras tertúlias: caça e futebol. Temas imutáveis que atravessaram gerações (e famílias) e que o Henrique - o funcionário mais antigo no café - faz questão de manter.

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Na "rota dos sabores" (12)

 

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 “Vila de Frades já não tem abades mas tem adegas que são catedrais e os seus palhetes são brilharetes, são de beber e chorar por mais (…)” Parece inusitado mas vem a propósito da passagem por Vila de Frades – no sábado, para almoçar. Apesar de não ter sido aquele o mote que me levou ao País das Uvas – Adega/restaurante mas sim o desejo de voltar a degustar um dos pratos de comida regional à disposição no cardápio.

 Ali, entre talhas e mobiliário alentejano – que decoram o espaço, há simpatia no atendimento e um conselho (ou outro) para ajudar a decidir. Sempre, com a preocupação máxima de servir bem o cliente.

 Desta vez optei pelo cozido de grão: multicolorido e muito aromático, graças às folhas de hortelã fresco - acabado de colher. Sabor “leve”, apesar da abundância de carnes e variedade das mesmas. Como segundo prato: as famosas “burras”, de grande qualidade e muito bem confecionadas. Tudo, naturalmente, bem regado com um tinto da região.

 A adega/restaurante é recomendada pelo TripAdvisor e possui vários diplomas de participação em eventos de renome, além de outros certificados de reconhecimento.

 Como diz a co-proprietária: “Aqui tudo é feito com amor e carinho.” E com profissionalismo, reconhecido, desde há muito.

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Nota: recomenda-se para um almoço (ou jantar), entre amigos, com tempo, para degustar as maravilhas gastronómicas à disposição.

A paixão pela Caça

 

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 Aos vinte anos a paixão pela caça deu sinais: ambicionei tirar a carta de caçador. Mas a família – em discordância – haveria de me dissuadir desse sonho. Hoje, para além do gosto pelo conhecimento da biologia e dinâmica das espécies cinegéticas, continuo a ficar fascinada com todos os rituais associados à caça: o contato com a natureza, o encontro e convívio com os amigos e a própria degustação das especialidades gastronómicas afins. Há uma filosofia e um modo de estar muito peculiares no caçador nato. Desde logo a escolha da própria arma, sua manutenção e limpeza. Há uma atenção e cuidado especiais com o fuzil - muitas vezes personalizado e/ou herdado de antepassados, também eles caçadores. Outro aspeto que me cativa: o amanhecer no campo. Geralmente as caçadas começam cedo, pelo que urge - atempadamente - tratar da logística associada à jornada: sorteio de “portas” e definição de estratégias do grupo. Isto, sem nunca falhar o café da manhã – normalmente, ainda de madrugada - para acordar os sentidos mais adormecidos.

 Também o respeito pela natureza é algo que o verdadeiro caçador não descura. Contrariamente à mensagem que a opinião pública faz passar. A caça, para além de ser uma atividade de desporto e lazer, ocupa um lugar de destaque nas economias locais.

 Os caçadores e os gestores dos recursos cinegéticos são pessoas, por norma, preocupadas com a manutenção dos ecossistemas em causa. Gerir de forma sustentada aqueles recursos é seu predicado (salvo as devidas exceções, naturalmente).

 Todavia, dizem os entendidos: “a caça já teve melhores dias”. Subjacente a esta visão, mais negativa, está a preocupação com as doenças (sobretudo do coelho-bravo), a redução do número de efetivos de algumas espécies, a falta de controlo na introdução de espécies exóticas e as taxas aplicadas à atividade cinegética.

 Apesar dos vários constrangimentos, estes “amantes da natureza” continuam a investir e a fazer da caça uma atividade que mobiliza centenas de pessoas.

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 Nota: é este espírito e esta filosofia de proximidade à natureza que os organizadores da Feira da Caça de Mértola (já na sua V edição) promovem e dinamizam - anualmente, nesta altura.

 Esta feira - um dos mais importantes eventos da vila museu - para além de promover os recursos cinegéticos locais, acaba por valorizar, também, outros produtos. No espaço - onde decorre a maior parte das atividades no âmbito da feira - há tendas onde se vendem e divulgam diversos artigos: armas, roupa e calçado para caça; caçadas; vinhos, queijos, pão e mel; pequenas máquinas e utensílios agrícolas, entre outros. Há, ainda, várias tasquinhas para degustação das especialidades gastronómicas de caça (e outras) e animação musical muito variada.

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No habitat da dieta mediterrânica

 

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Migas de espargos verdes selvagens com entrecosto frito

 

 A propósito do dia mundial da alimentação - que se comemora amanhã (dia 16 de outubro) - lembrei-me da importância da dieta mediterrânica no meu regime alimentar. Tendo crescido no seio de uma família tradicional alentejana, desde tenra idade que me habituei a sabores típicos da cozinha mediterrânica. Como o sabor das ervas aromáticas, muito usadas no tempero dos alimentos.

 Julgo mesmo poder afirmar: em Portugal o Alentejo é o habitat natural da dieta mediterrânica. O clima e a geografia da região conferem-lhe características únicas, propícias a uma economia em que a agricultura e a pecuária representaram (sempre) os principais setores. Concomitantemente, as ditas atividades sempre exerceram forte influência no regime alimentar das populações alentejanas.

 O pão (por exemplo) - muito utilizado em diversas sopas tradicionais e nas migas – era o alimento base. O que, aliás, se explicava devido ao cultivo intensivo do trigo.

 Outra característica, peculiar, da citada dieta: o uso de azeite, como gordura principal.

 Para além destas referências, outras, de merecedor destaque, poderiam ser enunciadas aqui: como os frutos secos, a carne das aves de capoeira, o peixe do rio e outros alimentos - ditos “bons” de acordo com as normas nutricionais.

 Em tempos, a referida dieta era tida como “pobre”. Quer por englobar reduzida variedade de alimentos, quer por uso excessivo de outros.

 Os tempos são outros - e as regras sobre nutrição alteraram-se. Há quem diga que a dieta mediterrânica é uma dieta saudável e rica em termos nutricionais. Talvez, por ser rica em fibras e antioxidantes derivados dos vegetais, legumes e frutos secos.

 Verdade ou não, certo é: a alimentação, para ser equilibrada, deve respeitar a famosa “roda dos alimentos” - e obedecer aos seus princípios. Comer de tudo, nas proporções corretas e adequadas à idade e profissão.

 Sem darmos conta, exageramos na ingestão de um ou outro alimento cujo paladar nos agrada mais. No limite, sacrificamos os rins - responsáveis pela “purificação do sangue”. Só mesmo um alerta para nos convencer que há: “alimentos bons e alimentos perigosos”. Alimentação equilibrada e alimentação desequilibrada. A escolha é nossa. O caminho certo existe. Só necessitamos de optar.

 

Nota: a Dieta Mediterrânica foi declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade, em 2013.

 

 

 

(Cinco) razões para visitar Mértola

 Dizia-me (ontem) um casal de viajantes “sem rumo” (ele inglês, ela francesa): «A primeira vez que subimos o rio, em direção a Mértola, e nos deparámos com a vista desta vila na encosta, ficámos boquiabertos. Esta paisagem deslumbrou-nos!». Hoje, passados alguns anos, estão de volta à vila museu. O pequeno veleiro, ancorado no rio, junto à ponte, serve-lhes de abrigo há quinze anos.

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 Tal como este casal, muitos turistas, ultimamente, escolhem Mértola como destino. Há várias razões para incluir a pequena vila alentejana nos circuitos turísticos. Pessoalmente indicaria cinco motivos para visitar Mértola: o património histórico e cultural; a envolvente natural; os eventos culturais, usos e costumes das gentes; os recursos cinegéticos e os produtos tradicionais.

 A pequena vila - humilde e plena de encantos (e mistérios) – há muito se impôs na margem direita do Guadiana. Companheiros de sempre. De mãos dadas, caminhando, resistentes aos séculos e às agruras da vida... Um percurso feito a dois, para sustento da sua comunidade.

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 Um breve encontro no centro da vila – no histórico café Guadiana - e avanço calcorreando as ruas. Em cada esquina me detenho. No empedrado, gasto pelo tempo, vislumbro a História… tantas histórias para reviver, tanta cultura para lograr. Abraço esse passado com garra e continuo revisitando espaços.

 Voltas e reviravoltas e o meu olhar recai no ex-libris de Mértola - a torre do relógio. Sem dúvida alguma, um dos monumentos mais bonitos da vila. Porventura o mais vezes pintado, pela mão do malogrado artista Mário Elias. Um ícone da arquitetura local, sem rival. De noite, ou de dia, a emblemática obra junto à muralha virada para o rio, não passa despercebida.

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 Para além daquele símbolo arquitetónico, outros se impõem no velho burgo: o castelo e a igreja matriz. E, mais eu andasse, mais haveria para destacar no que ao património histórico e cultural de Mértola diz respeito. Um mundo de outrora - presente nas ruelas íngremes e estreitas.

 Chego ao castelo. O centro do burgo antigo. Dali avisto o horizonte longínquo e a envolvente que me circunda: um ondulado sem fim que me transposta para épocas distantes.

 Recuo no tempo. Quase trezentos milhões de anos me separam do mar profundo que banhou estes terrenos. Mundos extintos, gravados nas rochas, e cuja presença se impõe (ainda hoje) sob os mais diversos aspetos - como a faixa piritosa onde nos situamos, o pulo do lobo e outras estruturas geológicas de suprema importância no concelho.

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 São estas riquezas naturais que me seduzem. Há um mundo natural por descobrir aqui. A diversidade de fauna e flora do Parque Natural do Vale do Guadiana – com destaque para as espécies cinegéticas - são motivos suficientes para uma estadia aqui.

 Continuo a minha “viagem” e dou por mim no outro lado do rio: em Além-rio. Nunca percebi muito bem (ou percebo) esta minha forte atração por este” bocado” de Mértola. Ali, sinto magia no ar - sobretudo no silêncio da tarde (e da noite). A visão do casario (na encosta oposta) surge majestosa. Poderosa mesmo. Sinto-me pequenina e humilde. Uma sensação de nostalgia invade-me (sempre) o pensamento. De repente apetece-me recuar no tempo e rever pessoas, factos e eventos… como todos os eventos culturais que animam este povo e estas gentes: o festival islâmico, a feira da caça, a feira do mel, queijo e pão (e tantos outros por este concelho dentro). Um mundo de tradições, de usos e costumes, de sabores, únicos e intemporais.

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 Vale a pena uma incursão nesta terra – à semelhança do que um dia fez o casal de viajantes - nem que seja por um dia. Mértola agradece (e as suas gentes também).

 

 

 

 

 

 

Marmelos e romãs (frutos de outono)

 Ao cair da tarde, na horta – junto à casa onde nasci, os marmeleiros que circundam a cerca de madeira prendem-me a atenção. Nos ramos pendentes, os frutos amarelo-dourado clamam a colheita. Enquanto isso, o pensamento corre veloz e transporta-me para o passado (recente).

 Viajo no tempo e vivencio momentos únicos e irrepetíveis: a minha avó, sentada na varanda da casa, a descascar os “frutos dos deuses” - para mais tarde fazer as tão desejadas marmelada e geleia. E eu, entre uma brincadeira e outra, lá ia ajudando (ou complicando) na tarefa.

 Folheio mais um pouco o livro das memórias, e noutra página revejo: as tigelas de porcelana, plenas do doce apetitoso, ainda fumegante. Mais tarde (depois de arrefecer), um círculo de papel vegetal servir-lhe-ia de tampa. E assim se conservava - durante o outono e inverno - até ao momento de ser consumido - normalmente com uma boa fatia de pão caseiro a acompanhar um chá de lúcia-lima ou de cidreira (os mais consumidos lá por casa).

 Noutras alturas, assavam-se os marmelos no forno de lenha - conjuntamente com o pão - para servirem de sobremesa (à semelhança das maças e das batatas-doces).

 Mais além, noutro canto da horta, uma velha romãzeira ostenta orgulhosamente os seus “frutos exóticos”: as simbólicas romãs. Um fruto de sabor agridoce, desde sempre muito apreciado. Para além das qualidades nutricionais (é rica em antioxidantes), a romã apresenta baixo nível de calorias. Devendo, por isso, fazer parte de qualquer regime alimentar - equilibrado e saudável.

 Outros frutos, outras histórias. Lembranças da infância, que me acompanham nesta breve revisitação pelo passado: recordo-me da minha avó “desbagulhar” meticulosamente as romãs para eu comer os bagos de cor vermelho-rosado, às vezes polvilhados de açúcar. Momentos de “doçura” simples, mas carregados de sentido.

 Os marmelos e as romãs são frutos carregados de simbolismos e crenças. No caso das romãs, dizia-se lá por casa que se deveria “comer uma romã no Dia de Reis para não faltar dinheiro durante o ano”. Crenças à parte, ainda hoje, ambos os frutos fazem parte do regime alimentar dos povos do mediterrâneo (e não só).

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NOTA: os marmelos, frutos oriundos da Ásia Ocidental e conhecidos dos gregos desde o séc. VII a.C., que os ofereciam aos deuses. «Para o povo, oferecer um marmelo era uma prova de amor: um decreto de Sólon, no século VI, oficializava a função do marmelo nos ritos nupciais.» (Digest, 1983). O marmelo foi (durante muito tempo) utilizado na medicina antiga - devido às suas qualidades adstringentes - por se julgar que era um antídoto de venenos (Digest, 1983).

A romãzeira - um arbusto oriundo da Ásia Ocidental – chegou mais tarde à Ásia Oriental e aos países mediterrânicos, onde se difundiu rapidamente. Aqui, as aves foram os principais agentes da disseminação. A romã foi um fruto muito apreciado pelos Árabes, os quais a cultivaram intensivamente esta planta no sul de Espanha. «A cidade de Granada (romã em espanhol, ostenta desde o século VIII o nome do fruto.» (Digest, 1983).

A romãzeira e o seu fruto estão ligados a um grande número de tradições e costumes, para além da forte carga simbólica que sempre esteve associada aos mesmos. Foram múltiplas as utilizações dadas ao sumo da romã – e até à casca, à raiz e à flor da romãzeira - na medicina antiga (Digest, 1983).

Referência bibliográfica: Digest, S. d. (1983). Segredos e virtudes das plantas medicinais. Lisboa.

Costume ou mania?

 Já me questionei (um cem número de vezes): que motivo leva alguns povos – nomeadamente os franceses - a construir casas de banho mistas? Será para poupar espaço? Poupar dinheiro? Ou será uma questão meramente cultural? Cultural, no mínimo, será. Se assim for, é uma ideia que não agrada a muita gente. Pessoalmente não me apraz estar dentro de um “cubículo” (com um ou dois metros quadrados) e com o nariz quase a tocar o urinol dos cavalheiros. Além de desagradável é pouco higiénico.

 Depois, é sempre constrangedor partilhar o espelho - enquanto retoco a maquilhagem -com dois ou três cavalheiros que me olham (nalguns casos) como se fosse extraterrestre.

A privacidade e o recato são necessários e exigem-se nos momentos mais íntimos.

 Mas pelos vistos não sou a única a ficar “com os olhos em bico” perante tal hábito. Certa vez - em Bordéus - enquanto aguardava na fila para o WC, um indivíduo de origem asiática procurava certificar-se se estaria no sítio certo. Procurou (exaustivamente) o símbolo indicador do género masculino e nada. Somente o símbolo “toilette” - inscrito numa placa, à direita da porta de acesso àquele compartimento - lhe dava a certeza de se encontrar no lugar exato. Resignado, entrou no minúsculo compartimento. À saída, ainda pouco convencido, repetiu a busca. E nada. Por fim, afastou-se - encolhendo os ombros – com ar atónito… talvez pensasse: “Será costume? Ou será mania?”

(No) Dia do Animal

 E se hoje – dia mundial do animal – lembrássemos os animais que já se extinguiram da face da Terra mas que marcaram para sempre a história do nosso planeta? Como os dinossáurios, esses “gigantes” que nos deixaram há mais ou menos sessenta e cinco milhões de anos.

 

 Alguém duvida que (quase) todas as crianças ficam fascinadas quando lhe falamos do Tiranossaurus rex (ou de outro parente qualquer dos grandes répteis)? Qualquer miúdo (e até graúdo) fica rendido à história dos tempos geológicos. E mais ainda, quando a mesma inclui aqueles animais. É percetível o interesse e a atenção dada às matérias relacionadas com o tema: dinossáurios. E quando se coloca a hipótese de visitar um sítio onde a memória desses tempos está presente, o interesse é ainda maior.

 Um desses locais – cuja visita se recomenda - é o museu da Lourinhã: um espaço cujo espólio reúne um vasto conjunto de achados arqueológicos e geológicos de grande interesse para crianças, jovens e adultos… Um local para viajar no tempo e conhecer mais um pouco da História da Vida e da Terra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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