Sós (no meio da multidão)
Sentada numa esplanada do bairro, uma idosa “coquete”; cabelos louros, óculos de sol de tamanho XXL, olha em redor. Enquanto bebe um café e fuma um cigarro, vai contemplando o espaço e as gentes, com todo o tempo que a vida lhe quiser dar. Parece-me tranquila, mas triste. Estará só? Viverá sozinha? Terá família e/ou amigos?
Na mesa ao lado, um homem jovem e bonito bebe o café apressadamente. Olhar inquieto, lunático, até. Sorve o café, acende um cigarro e apressa-se a sair. Mais uma vítima do frenesim da cidade. Julgo. No passeio lateral, dois idosos que se cruzam, cumprimentam-se. Talvez sejam vizinhos. Uma vizinhança pouco enraizada, superficial no trato e nos gestos. Relações débeis e temporárias, na maioria das vezes, que não se coadunam com amizade e solidariedade. Laços frouxos de um ambiente impessoal.
Tantos rostos à minha volta e nada me dizem. Desgastados pelo tempo e com ar triste, deambulam pelas ruas da cidade.
São cada vez mais as pessoas que vivem sozinhas. Ou por vontade própria ou por imposição de qualquer índole, a solidão, no sentido da ausência de companhia, tomou conta da vida de muita gente.
Frequentemente, a ausência de convívio interpares, no próprio local de trabalho, agrava a situação. Ou se trabalha por objetivos e há que cumprir dentro do prazo estabelecido, ou a correria diária devido aos horários e afazeres é de tal modo intensa que não deixa margem para descomprimir. Resultado: movemo-nos na “multidão” mas vivemos à margem da mesma. Diria antes: sós (no meio da multidão).