“Já não há Natal como o de antigamente!”
Cá em casa é frequente ouvir dizer: “Já não há Natal como o de antigamente!” Por hábito, não comento. Limito-me a ouvir o rol de recordações que a minha mãe vai debitando, junto à lareira. No caldeirão das memórias, há uma ou outra que se aviva: lembro-me, por exemplo, de ir à mata, nas traseiras da casa, colher o musgo para o presépio. Uma tarefa divertida, que a minha avó materna fazia questão de manter todos os anos. A montagem do presépio constituía um momento mágico, mas nem sempre pacífico. A disposição das figurinhas de barro, sobre o tapete de verdura, por regra, não obedecia ao sentido estético e decorativo que a minha mãe desejava. No entanto, entre uma alteração e outra, os figurantes ganhavam vida e o espírito de Natal inundava a casa.
Hoje, o presépio não tem musgo e as figurinhas de barro deram lugar a uma peça única, representativa da sagrada família. A árvore de Natal e outras alternativas decorativas vão dando aos lares o ar natalício na medida do desejo (e vontade) de quem neles habita.
Com presépio, ou sem ele, mais do que viver o espírito do Natal – em paz e harmonia, vive-se o consumismo dos tempos modernos: comprar mais e mais. Promoções e saldos (antecipados) vão atraindo à rede os consumidores mais desatentos, transformando uma dos mais antigas “reuniões familiares” num negócio sem limites. Talvez por isso (e muito mais), o Natal de hoje seja bem diferente do Natal de antigamente…
Presépio na rotunda de Mértola, Natal 2014