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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Para lá dos montes...

(...) Onde o horizonte rasga a paisagem, há um mundo desconhecido que fascina. Cenários que os olhos imaginam e a mente vê: uma forma de invocar o incógnito por via do momento. Um momento (único) que o entardecer traz consigo; o tempo em que o sol diz adeus ao dia e cumprimenta a lua. Tempo em que o silêncio e a tranquilidade reinantes trazem magia ao instante.

Um quadro bucólico, onde a esperança e o sonho prevalecem, aliviando os dissabores do dia. Longe de tudo e de todos. Só eu e o rio construindo sonhos de desejos ocultos... porque “todos temos um segredo fechado à chave nas águas-furtadas da alma”.

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Ao meio-dia na aldeia

Atravesso a peneplanície, sob um calor abrasador. À hora combinada chego à aldeia. No largo (único), uma carrinha, em jeito de mercearia ambulante. Cumprimento os presentes e pergunto onde se situa a sociedade recreativa. Dizem que é logo ali, ao lado. Estaciono o carro e instalo-me na sombra do telheiro defronte à porta. Numa mesa, quatro homens jogam à carta; outros dois, mais recuados, vão tecendo comentários avulso. Num pinheiro, junto ao casario, uma rola turca canta; no pátio, onde me encontro, um cão, de língua de fora, vai farejando por ali. Eu, sentada num banco junto à porta, fico observando e sendo observada; atenta e descontraída, a vivenciar toda aquela ruralidade, que tanto me apraz. Sons e diálogos familiares, que me transportam para outro tempo. E mais uma vez a saudade se instala, trazendo ao presente memórias, únicas e inesquecíveis. Reprimo a lágrima que intenta formar-se. Desvio o pensamento e concentro-me no quadro que os meus olhos veem: uma imagem onde a genuinidade, das gentes e dos sítios, se impõe. Uma autenticidade que (ainda) se sente e se vive em lugares recônditos deste concelho (e deste país).

O cantinho ideal para um café...

Em pleno largo, a olhar o rio, na "loja da Marta" (como é conhecido entre amigos) encontrei o cantinho ideal para um café comigo mesma; um espaço para aqueles dias em que apetece estar no Agora, sem (muitas) interferências externas.

Um espaço acolhedor, com toque de personalidade: Alemcante (em Mértola) - a "minha" coffee shop do momento.

 

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Mértola está (mesmo) "na moda"

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 No beco virado ao rio, um grupo de turistas aprecia a paisagem. Enquanto se deslumbram, vão tecendo comentários; entre uma palavra e outra (que escuto sem querer) consigo perceber que uma visita ao castelo faz parte do périplo. Como este grupo, dezenas de outros visitantes optaram por Mértola, como destino de fim-de-semana ou, simplesmente, como local de passagem a caminho do Algarve.

 O calor que se fez sentir nos últimos dias não impediu que calcorreassem as ruelas do centro histórico, para conhecer um pouco mais da vila museu. E com isso, Mértola ganhou vida. É certo que grande parte dos visitantes esteve apenas de passagem; outros, porém, permaneceram por mais tempo (uma ou duas noites - de acordo com a disponibilidade financeira) aproveitando para descansar nas excelentes unidades hoteleiras à disposição - disfrutando do conforto e qualidade das mesmas, numa envolvência natural única.

 Não há dúvida: o turismo em Portugal está em fase ascendente. Mértola é um exemplo disso. Começa a ser comum: ouvir falar línguas estrangeiras nos diversos espaços públicos e ver um fotógrafo em cada esquina.

Definitivamente: “Mértola está na moda!”

 

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No trilho da mina (de S. Domingos)

 O caminho cor de ferrugem denuncia a proximidade ao “chapéu de ferro”. No ar, o cheiro acre dos óxidos não deixa margem para dúvida: estamos na antiga corta da mina de S. Domingos. Um local emblemático, onde a alma mineira se encontra preservada.

 Folheio o livro das memórias, enquanto caminho sobre as escórias, espalhadas pelo chão, junto aos velhos armazéns da fundição: em todas as páginas, já gastas pelo tempo, destaca-se a vida dos mineiros e de todos aqueles que fizeram da Mina de S. Domingos, o centro de vida social mais ativo do concelho de Mértola - na primeira metade do século XX. Em cada ruína, o som do martelo e o suor dos mineiros permanecem imutáveis, como se o tempo tivesse parado ali.

 Nos anos sessenta, terminada a exploração mineira, teve início um período de abandono e degradação ambiental, que se manteria até (quase) aos nossos dias. Felizmente, e graças ao programa de recuperação ambiental da mina,  S. Domingos é hoje uma referência no turismo nacional: a praia fluvial; a zona circundante da “corta” - um sítio de interesse geológico; a estalagem S. Domingos - uma unidade hoteleira de alta qualidade, entre outros pontos de interesse histórico, arqueológico e cultural, fazem destas paragens o local ideal para descansar, longe do bulício das cidades.

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Festival Islâmico – “as mil e uma noites de Mértola”

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(Ainda me lembro da primeira edição do “Festival Islâmico” de Mértola! Decorria o mês de maio, do ano 2001).

 Os dias quentes (quase tórridos, já) desnudam os corpos da roupagem de inverno e convidam a sair de casa. Nas ruas, estreitas, da “vila velha”, os panos dos toldos (e tendas) dos marroquinos pintalgam de cor as ruelas alvas. No ar, o cheiro agridoce aguça o apetite! Na banca dos frutos secos e das especiarias, os aromas entrelaçam-se numa alquimia exótica que desperta os sentidos. Apetece provar (e comprar) tudo, ou não fosse o percurso pelas bancas do souk, para além de outras, uma das formas de vivenciar o verdadeiro espírito do festival.

 O som da chamada para a oração, traz de volta viagens do passado e aproxima os crentes (e não só) da “mesquita improvisada”.

 Há alegria e agitação constantes. Centenas de pessoas calcorreiam a “medina” num sobe e desce contínuo; enquanto isso, vão trocando sorrisos fáceis e breves, procurando aproximar-se. É esta comunhão, que suscita nas gentes um estado de alma diferente, que acontece durante os dias em que decorre o festival.

 No palco improvisado da praça mais antiga da vila, um grupo musical faz as delícias de quem passa: a música, com ritmo, atravessa gerações. Ninguém fica indiferente aos ritmos “afro-latinos” que entoam na velha praça do município. No muro contíguo, o público amontoa-se para ver de perto os músicos alternativos. Mais a frente, num dos “bares temporários” que pululam pela vila, bebem-se cocktails (re)inventados… A lua, lá no alto, agita os corações mais românticos. Há romance no ar!

 Noutro beco mais adiante, um grupo de bailarinas dança ao ritmo da música; enquanto isso, o tilintar dos adornos dos véus, esvoaçantes, acompanha o movimento ondulatório dos corpos, bem ao jeito da “dança do ventre”. Um quadro mágico, num ambiente das “mil e uma noites”.

 Uma vila que não dorme, mas sonha, nos dias do festival que já se tornou evento nacional.

 Atreva-se a sonhar nos próximos dias: 21, 22, 23 e 24 de maio de 2015.

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Túberas - as "trufas alentejanas" (?)

 Falar de túberas é o mesmo que falar de trufas? Eu julgo que sim. Aliás, creio que as túberas são uma variedade de “trufas brancas”. Há, até, quem lhes chame as “trufas alentejanas. Seja como for, as túberas são fungos, comestíveis, de forma arredondada (mais ou menos irregular), com sabor e aroma intenso, que se encontram com relativa facilidade nos campos do Alentejo. Desde a época romana que as “trufas” constituem uma iguaria muito apreciada, podendo atingir preços verdadeiramente exorbitantes.

 Por aqui, no Baixo Alentejo, estamos (ainda) em plena época da “apanha da túbera”. E não, não é necessário “cães e porcos” para farejar o solo e encontrar túberas. O segredo, passado de geração em geração (e muitas vezes bem guardado), consiste na capacidade de observação do terreno e de sinais (evidentes ou não) da presença das ditas.

 Desde criança que assisto ao “ritual” da procura dos famosos fungos: um sacho para revolver a terra, um chapéu na cabeça para proteger do sol que se faz sentir nesta altura do ano, e uma dose (grande) de paciência e sabedoria, diria. Normalmente, é nos terrenos mais “moles”, segundo os entendidos, lavrados há 2/3 anos e com “mato novo” que as túberas aparecem com maior frequência. Há, inclusive, uma linguagem muito própria deste ritual. A presença de uma zona do solo soerguida, com fendas, o chamado “escarchão” é, por norma, um sinal a reter. Caso se encontre alguma túbera isolada, também, não deve abandonar-se o local, pois nas proximidades estará, diz quem sabe, um conjunto maior das ditas – a chamada “leira”.  A minha avó materna, uma expert na matéria, depois de encontrar uma túbera isolada, tinha por hábito trautear uma espécie de lengalenga que, segundo a sua crença, ajudaria a encontrar o referido conjunto: “Parceira, parceira, dá-me a tua leira!”

 Como a tradição (neste domínio) ainda é o que era, apanhar túberas continua a ser um acontecimento frequente nos campos alentejanos, sobretudo, nos meses de março e abril - às vezes mais cedo (em fevereiro) se o inverno tiver sido chuvoso. Para além do prazer da degustação de tão famosa iguaria, ir para o campo procurar túberas é uma forma saudável de conviver em família (por exemplo) em contato direto com a natureza. 

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Nota: túbera[1] – cogumelo com a parte esporífera subterrânea, em regra, comestível; trufa.

 

 

[1] in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-04-13 14:17:44]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/túberas

Pinta(n)do a sépia...

 Olho em redor. O que vejo? Um quadro envelhecido, quase a desvanecer-se. Cores pálidas. Sulcos profundos - numa tela desgastada pelo tempo - que magoam os olhos e a alma de quem os vê. Uma vila, envelhecida e triste, onde quase nada resta do passado (recente). Os jovens partiram para parte incerta (ou não); os residentes estão cansados e resignados. Há apreensão no olhar e apatia nos gestos.

 Nada se compara ao movimento de outrora. As ausências fazem-se notar, daqui, da esplanada sobranceira ao largo. Sinto os espaços a envelhecer.

 A música que embala o tempo é outra: mais triste e melancólica, mais compassada. Sem ritmo. Assisto ao êxodo - apática e sem estímulo para reagir - porque, também eu, faço parte do quadro.

 Enquanto isto, duas jovens caminham ao ritmo do tempo; mais abaixo, uma idosa vai desafiando as pedras da calçada, enquanto o corpo luta pelo equilíbrio…

 Sei que os olhos constroem a imagem, mas, apesar disso, o que vejo não me agrada de todo. Quem me dera poder pintar de novo o quadro que tenho pela frente. Rejuvenescê-lo-ia e dar-lhe-ia brilho e movimento… tingi-lo-ia de mil cores, como se da primavera se tratasse. Cruzar-me com a alegria nas ruas e sentir o sonho no rosto de quem passa… voltar a ver sorrisos inesquecíveis, rostos eternos…

 Não posso. Sei que não posso alterar o quadro de uma Vida, mas posso, pelo menos, avivar as cores da memória e brincar com os desejos do momento.