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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Portas (da vila)

Dei-me conta, um destes dias, de estar a fotografar portas, na "vila velha" (em Mértola), enquanto caminhava por ali. A variedade de estilos e cores das ditas "aberturas" não me deixou indiferente. Umas mais antigas, outras nem por isso. 

Optei pela fotografia; outros há que preferem transferir o seu olhar para uma aguarela, um desenho a carvão, etc. Seja de que jeito for, com mais ou menos beleza, as portas sempre constituíram um elemento fundamental da estética arquitectónica; uma fronteira entre um domínio público e um domínio privado.

Em simultâneo, e enquanto os olhos observaram, a mente construiu narrativas, que a memória foi ilustrando: o tempo das conversas entre vizinhos, no poial da entrada, nas noites de verão... das mães a espreitar nos postigos, enquanto a criançada brincava às escondidas, nos becos... das velhotas na soleira, à espera de um bom dia... verdadeiras molduras, de quadros cada dia menos realistas; testemunhos de relações sociais saudáveis; resquícios de outra época - a do tempo do convívio ao ar livre (sem redes sociais, nem videojogos). 
Uma miragem, nos tempos atuais, que os mais saudosistas vão recordando...
 

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Domingo de inverno

É domingo. Na vila (como na cidade) os domingos de inverno são, por norma, tranquilos e dados à melancolia; dias de silêncio e recolhimento. Gosto e não gosto dos domingos. Nestes dias, procuro um recanto que me deixe beber um café comigo mesma. Hoje escolhi o Além Cante, no Largo Vasco da Gama. Ali, à entrada para a "vila velha", ao domingo, no inverno, o espaço permite-me estar, tranquilamente, a ler e a bebericar o café... Lá em baixo, o rio. Corre lento, ausente, consigo mesmo. Transporta na alma histórias de outro tempo, histórias que o tempo gravou na memória das gentes. Também aqui, de onde a vista alcança, percorro um caminho de ausência: percurso sinuoso, onde o sonho me acompanha e conduz. Nessa ausência, embarco no delírio da imaginação construindo arco-íris de afetos. Apesar da ausência, a presença da esperança vai compensando o vazio que se vive por aqui... Olho em redor, ninguém. Mais um dia cinzento de ausência, mais um domingo do meu (deste) inverno.

A "loja do Sr. Artur"

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 Há espaços que, de tão peculiares, nos transportam para outro tempo, outra realidade. Foi isso que me aconteceu quando, a pretexto de comprar uma garrafa de água, entrei na “loja do Sr. Artur”.

 Entrei, observei – durante algum tempo -, e só depois de rever algumas imagens guardadas na memória, encetei conversa com o proprietário – Artur O., que, com enorme simpatia e agrado, me explicou como é possível (ainda) manter, no atual contexto socioeconómico, este tipo de estabelecimento comercial: um misto de mercearia e retrosaria, onde se vende (e há) de tudo.

 “Depende da época” – referiu. “No inverno vendem-se mais lãs!” Embora resignado com a situação que se vive neste tipo de comércio (a retalho), está patente um brilhozinho nos olhos quando fala da loja no “antigamente”. E eu, curiosa e atenta, e num momento ou outro comovida (até), lá fui escutando a descrição detalhada da arquitetura interior do espaço, quando o mesmo pertencia aos antigos proprietários: o Sr. Eurico e a esposa Isabel Revez. Nesse momento, a memória parou-se-me no tempo: do pequeno compartimento de madeira – o escritório improvisado, o Sr. Eurico, sempre com um sorriso, saía para dar uma palavrinha de apreço aos clientes habituais ou para tentar vender algum produto. A esposa, sempre bem-disposta e extrovertida, lá ia supervisionando as vendas, enquanto deambulava atrás do balcão com um sorriso nos lábios - sempre pintados de vermelho.

 Hoje, a realidade é outra. O despovoamento acentuado do interior do país, nas últimas décadas, tem provocado repercussões negativas neste género de negócio; manter a “porta aberta” é cada dia mais difícil – na opinião do Sr. Artur.

 

 E foi assim… recordando o Passado, que o Presente se impôs aos meus sentidos.

 

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Na "rota dos sabores" 16

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 À hora marcada, a chegada: restaurante “Casa Amarela”, em Além Rio. Como é hábito (quase) diário - para aquela margem - o percurso fez-se a pé. Uma oportunidade única de (re)ver a belíssima paisagem da vila museu, que, majestosa e imponente, se afirma na margem direita do rio Guadiana. Uma imagem marcante pela rara beleza, um quadro digno de apreço. Como merecedora de apreço é a decoração da “Casa Amarela”: muito clean e muito cosy. Um ambiente que nos transporta para outras paragens - longínquas, até. Tudo pensado (e planeado) na perspetiva do conforto e bem-estar do cliente.

 A mesa reservada no terraço - sobranceiro ao rio e emoldurado pela vila museu – reporta o espaço para um quadro impressionista. E enquanto aguardo a chegada da bebida - um rosé bem gelado, da produção local - vou saboreando a magia e o encanto do momento.

 A degustação de um buffet[1] de cariz mediterrânico com salpicos de cozinha de fusão deixou-me totalmente rendida. A entrada, uma sopa fria – gaspacho – seguida de um misto de saladas e “frango de escabeche” foi o mote para uma refeição muito especial, rica de sabores, mas sem nunca perder o cunho da tradicional cozinha alentejana. Seguiu-se um “bacalhau com espinafres à casa” que acompanhei com “salada de alface, maçã e nozes”. Por fim, e porque sou alentejana e adoro: “borrego assado no forno com alecrim” acompanhado de “arroz de cogumelos” e “batatas assadas com ervas aromáticas”. Delícias gastronómicas, confecionadas pela D. Odete - a cozinheira de serviço, sob a supervisão de Marta Luz, a proprietária – e que aconselho vivamente a provar.

 A sobremesa: “bolo de chocolate acompanhado de gelado de baunilha e coulis de frutos vermelhos” - uma ode ao paladar – finalizou um magnífico jantar no restaurante cuja vista panorâmica sobre a “vila velha” deslumbra e inebria os sentidos – mesmo aos menos românticos.

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Nota: pontuação máxima para a simpatia e profissionalismo no atendimento e uma excelente relação qualidade/preço.

 

[1] O restaurante também tem disponível um menu “à la Carte”.

(Ode) ao pescador

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O que vejo para além deste rio e para além destas águas?

Escarpas agrestes, esculpidas da Terra

Entes de alma, gritos perdidos na imensidão da noite.

Corpos cansados, de angústia feitos, remando lá vão

Sob o céu trovejante, clamando o pão, vidas perdidas e gastas no tempo.

Leva-me contigo, pescador!

E sobre as águas calmas da tarde, deixa-me ir beijando a natureza... até onde a vida me quiser.

 

 

Hoje, vi África!

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                                                                                                                               (na estrada Mértola-Almodôvar)

 

 Os olhos veem o que queremos.

 Esvaziar o pensamento e voar. Voar para lá do horizonte. Só eu e a paisagem. Escutar-me e escutar a natureza.

 Pode parecer estranho, mas sempre que o faço sinto-me renovada e o mundo ganha outras cores e outros contornos.

 É este poder do Ser que nos conduz ao mundo dos sonhos…

 E, assim, livre do poder da mente, liberto-me do passado, não projeto o futuro e vivo intensamente o Agora.

 Vale a pena tentar!

"Casa do Funil" - a nova casa de campo em Mértola

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Desce. Sobe. Sobe e desce. É este o ritmo das andanças na vila velha. Um labirinto de ruelas que me conduzem à rua da “Torre do Relógio”, passando pelo “funil” – uma passagem estreita por onde vislumbro o rio.

 Hoje a ida tem um motivo: inauguração da casa de campo “Casa do Funil”. A nova unidade hoteleira do burgo (que os amigos Paula e Rui tão bem souberam arquitetar e decorar).

 Antes de conhecer o novo espaço, houve lugar a uma animação de rua: uma curta peça teatral para animar os convidados. Um momento de verdadeira descontração, ou não fosse o local uma rua emblemática, deste cantinho à beira rio plantado…

 Seguiu-se um pequeno beberete - na zona de receção e loja gourmet -, onde deliciosas iguarias se fizeram acompanhar dos excelentes vinhos da região – rosé e branco bem fresquinhos.

 No final o reconhecimento do espaço e a certeza de estarmos numa casa tranquila, onde o espírito Zen se faz sentir. Recomenda-se a estadia.

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