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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

“Já não há Natal como o de antigamente!”

Cá em casa é frequente ouvir dizer: “Já não há Natal como o de antigamente!” Por hábito, não comento. Limito-me a ouvir o rol de recordações que a minha mãe vai debitando, junto à lareira. No caldeirão das memórias, há uma ou outra que se aviva: lembro-me, por exemplo, de ir à mata, nas traseiras da casa, colher o musgo para o presépio. Uma tarefa divertida, que a minha avó materna fazia questão de manter todos os anos. A montagem do presépio constituía um momento mágico, mas nem sempre pacífico. A disposição das figurinhas de barro, sobre o tapete de verdura, por regra, não obedecia ao sentido estético e decorativo que a minha mãe desejava. No entanto, entre uma alteração e outra, os figurantes ganhavam vida e o espírito de Natal inundava a casa.

Hoje, o presépio não tem musgo e as figurinhas de barro deram lugar a uma peça única, representativa da sagrada família. A árvore de Natal e outras alternativas decorativas vão dando aos lares o ar natalício na medida do desejo (e vontade) de quem neles habita.

Com presépio, ou sem ele, mais do que viver o espírito do Natal – em paz e harmonia, vive-se o consumismo dos tempos modernos: comprar mais e mais. Promoções e saldos (antecipados) vão atraindo à rede os consumidores mais desatentos, transformando uma dos mais antigas “reuniões familiares” num negócio sem limites. Talvez por isso (e muito mais), o Natal de hoje seja bem diferente do Natal de antigamente…

 

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Presépio na rotunda de Mértola, Natal 2014

 

 

Natal - com sabor beirão

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 O Natal, à semelhança de outras festividades, constitui um bom exemplo do mosaico cultural português. Há usos e costumes associados à quadra que estão globalmente disseminados; outros, porém, refletem a tradição local. O menu da consoada traduz na íntegra essa diversidade na unidade.

 Este ano (como bienalmente) a experiência repetiu-se e a noite de 24 de dezembro foi passada na “terra da castanha”. Um condicionalismo familiar que muito me agrada - diga-se.

 Como da primeira vez, o menu da consoada obedeceu aos sabores locais: arroz de polvo com filetes do mesmo, açorda à moda de Lamego e o tradicional bacalhau cozido com couve. Na mesa das sobremesas misturaram-se sabores beirões e alentejanos: rabanadas e sonhos de um lado, filhós e azevias com doce de grão do outro. Uma partilha já instituída e que agrada a todos.

 À meia-noite, o “Pai Natal” de serviço distribui os presentes pelas crianças da família (e pelos adultos) num ambiente divertido e alegre. Depois da festa em família, os homens (sobretudo os mais jovens) saem de casa e reúnem-se à volta de uma enorme fogueira - o cepo, como lhe chamam - no largo da vila, para confraternizar até de madrugada.

 Confesso que a primeira vez que saí do meu contexto familiar - na noite de Natal - fiquei um pouco expectante e curiosa. Para além dos novos laços familiares (por afinidade) os sabores eram outros e os costumes diferentes. Revelou-se, todavia, uma experiência ótima. Valeu a pena por tudo: pelo convívio, pela partilha de costumes e, sobretudo, pelo bem-estar que a “nova família” proporciona a todos os presentes.

 Apesar de ter sido uma noite bem passada, a lembrança dos familiares ausentes fez-se sentir a toda a hora. Por outro lado, os pequenos detalhes: a lareira acesa com o tronco de azinho a crepitar até ao dia seguinte, a linguiça assada na brasa… e o ladrar dos guardiões da quinta no silêncio da noite… sabores e sons familiares que me acompanham desde menina - no Natal (e não só).

 

O pequeno trenó

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 Assim que “as” vi fiquei rendida. Sobre a secretária da entrada, o pequeno trenó (puxado por cinco renas) cativou-me de imediato. Que delícia! Exclamei, completamente rendida à criatividade exposta.

 Aquele trabalho manual (de um aluno da minha escola) não podia ser mais adequado e criativo para a época.

 A capacidade de comunicar através da arte é algo que sempre me fascinou. E ali, naquela pequena porção de papel reciclado, para além da mensagem de Boas Festas, outras, tão ou mais importantes, me prenderam a atenção.

 A criatividade e o sentido estético daquele trabalho fizeram-me pensar: há competências para além do domínio cognitivo (quase sempre implícitas) que um professor deve saber explorar. Foi o caso.

 Assim se faz um artista... e assim se revelam os verdadeiros mestres. Parabéns D.F.

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O pequeno Pai Natal (de lata)

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 Quando olhei para a imagem do pequeno castiçal sobre a mesa, lembrei-me do velho cliché: “Já não acredito no Pai Natal!” É verdade que já ultrapassei há muito a idade da fantasia, mas nem por isso deixei de apreciar a decoração de Natal.

 Hoje ao entrar no café O Cantinho (o café do Sr. Joaquim – como costumo chamar-lhe), procurei, como sempre, a mesa do canto, à direita da entrada. E reparei nele. Ali mesmo à minha frente, pousado sobre a mesa, um pequenino Pai Natal de lata olhava-me nos olhos. Aquele “olhar” meigo e carinhoso, estampado na face do pequeno boneco, aconchegou-me na manhã fria e chuvosa. E pensei: mais um mimo da D. Natércia para os clientes e amigos.

 Todos os anos, na quadra natalícia, a coproprietária do pequeno estabelecimento faz questão de tornar o ambiente ainda mais aconchegante, decorando-o com velas - e outros detalhes alusivos ao Natal. Um gesto singelo mas carregado de sentido. E nós, clientes, sentimo-nos “em casa”.

 Gosto de estar ali a ouvir o silêncio nas manhãs de domingo… respirar o aroma do café e das torradas acabadas de fazer. E, sobretudo, gosto do jeito delicado no atendimento e do sorriso genuíno no cumprimento.

Há lugares que nos acolhem como se fossemos da família… o Café O Cantinho é um deles.

 

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Chegou o presépio!

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 Com a proximidade do natal as decorações alusivas à quadra já começaram a dar o ar da sua graça.

 Não sou muito apreciadora da época (já o disse), mas confesso que os presépios me cativam. Desde criança que aprecio as figurinhas simbólicas - metodicamente arrumadas e coordenadas entre si.

 Com a chegada do mês de dezembro, a minha mãe - como qualquer mãe de família cristã -, incentivava os filhos a montar o presépio. Mas antes disso havia a tarefa da colheita do musgo, na floresta próxima de casa. A dita recolha, que representava sempre um motivo de diversão, fazia-se, quase sempre, nos locais sombrios e húmidos, por ser aí que o tapete verde das minúsculas plantinhas – as funárias -, adquire maior espessura. A minha avó Jacinta, que nos acompanhava, gostava destas incursões pelo campo, durante as quais nos ia sensibilizando (e ensinando) para as leis da natureza – à sua maneira e sem grandes teorias, claro.

 Finalmente a decoração do presépio ficava-me reservada. E como eu gostava de colocar os pequenos “figurantes” - de barro pintado -, no seu lugar próprio… ainda que, mais tarde, a minha mãe desse o retoque final na arrumação.

 De entre todas as figuras do presépio, a minha atenção incidia sobre o Menino Jesus e os animais – particularmente a vaca e o burro. Ainda hoje me entusiasmo com o presépio… como o presépio da rotunda da avenida que todos os anos faz as delícias dos transeuntes.

 De noite e de dia, os representantes da Sagrada Família (e os Reis Magos) ali permanecem, dando as boas vindas a quem chega… e despedindo-se de quem parte.

Natal (antecipado)

 Dei conta que a palavra Natal já invadiu a blogosfera: já muitos falam da quadra festiva.

 Aproxima-se a época das “luzes” e das “prendas”, do consumismo desmedido. Em dezembro a correria às lojas deixa qualquer pessoa à beira de um ataque de nervos. Entra tudo em desvario perfeito e os atropelos nos corredores dos fóruns (e congéneres) são mais que muitos. Prefiro pensar o Natal como o momento para comemorar o nascimento de Jesus Cristo. Um momento de partilha em família.

Por isso me questiono: já há luzes e árvores de Natal à venda? E campanhas de brinquedos?

 Mas faz algum sentido? Claro que sim (dirão alguns). Esquecia-me da sociedade de consumo onde vivo e com a qual pactuo (digo eu). Todos sabemos que o impacte económico do Natal é uma realidade em crescendo; mas começar no início de novembro a falar do Natal - como se estivéssemos a quinze dias do acontecimento propriamente dito - acho um pouco exagerado.

 Outra coisa que me arrelia imenso: o que oferecer a fulano, beltrano e sicrano? Nada, penso eu. Oferecer presentes porque sim, não faz qualquer sentido. Se queremos oferecer algo a alguém façamo-lo em qualquer dia. Ou façamo-lo no dia de Reis – à semelhança do que fazem os nossos vizinhos espanhóis. Talvez aí o simbolismo da oferenda tenha - à luz do pensamento religioso - outro cabimento, bem mais aceitável. Julgo eu.

 Por diversas razões, não aprecio particularmente a época; mas respeito quem vive intensamente a quadra natalícia. Sonhar é preciso e o Natal propicia-se a isso. Feliz Natal, antecipado.