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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

À descoberta de Montseny...

O dia começou em Ribes de Freser, à entrada do Vall de Núria, nas proximidades da parte oriental dos Pirinéus, com o relaxante momento do café da manhã. Momento onde houve lugar à leitura dos jornais (locais e internacionais) e do livro que me acompanha nas férias. Quase sempre um volume de 300 páginas no mínimo. Às vezes volta com o marcador na vigésima página (ou pouco mais), o que é indicador da qualidade dos dias passados. Absorventes.

 

 Serra Cavallera (em cima) e torre de igreja em Pardines (em baixo)

 

Segui depois para Pardines, uma aldeia histórica junto à Serra Cavallera. Depois da visita da praxe, umas deliciosas “costeletas de borrego grelhadas” forneceram a energia necessária para seguir caminho até Montseny (um parque natural que é reserva da Biosfera, situado a cerca de cem quilómetros a norte de Barcelona). O tinto (Roca Brava) que acompanhou o repasto era tão bom que só no final percebi que um copo a mais tinha (e teve) efeitos secundários. Nada de grave. Apenas uma ligeira sonolência com uma boas gargalhadas à mistura que uma breve siesta (no carro) fez questão de colmatar.

 

 Casa típica (em Pardines)

 

O parque proporciona visões magníficas. As paisagens inebriam os sentidos. Do alto das serras o horizonte longínquo absorve-nos. A mente voa e o físico plana (mais ainda). Há lugar à imaginação e ao deambular na mesma. Cada momento é único e vivido ao máximo como se não existisse amanhã. Senti isso (e muito mais) durante a travessia do parque mas o momento de descontração total chegaria com a entrada no hotel Husa Sant Bernat e espaços envolventes. Um paraíso escondido na serra, longe de tudo, mas com tudo para nos fazer sentir no lugar perfeito. A presença de um casal de cães da raça são bernardo, afável e ternurento, é a imagem de marca e da história do hotel. Convivem com os hóspedes, de forma salutar e devidamente controlada, sem provocar qualquer constrangimento. 

 Vista parcial do parque Natural de Montseny

 

O hotel, situado a 850 m de altitude, está rodeado de bosques e jardins com carvalhos centenários e dispõe de vários serviços, entre os quais um restaurante com cozinha de montanha (e internacional). Possui, também, uma ermida cuja lenda, fortemente carregada de sentido, está associada à história local. A localização permite uma visão panorâmica magnífica. Um local romântico. Místico (até). Ideal para descansar e viver a natureza em pleno “às portas” da agitada Barcelona.

 

 Hotel Sant Bernat

 

Os amantes das caminhadas são frequentes por ali. O parque está, também, vocacionado para essa vertente e oferece as infraestruturas adequadas.

 

 Ermida (em cima) e restaurante (em baixo)

 

A mascote do Hotel Sant Bernat

 

Nota: ideal para quem visite Barcelona (com tempo) e deseje afastar-se do bulício da cidade por uma ou duas noites.

Nas arribas "do Amado"

Não sou surfista, nem sei surfar! Mas gostava de ser (e saber). Adoro o espírito natura associado ao Surf e às rotas do mesmo. Na costa vicentina, as praias mais recônditas são quase sempre refúgios magníficos. Lugares onde se encontram muitos praticantes da modalidade e onde ainda não houve uma intervenção significativa do Homem. Ali se sente a bravura do mar (ou não) e o ambiente natural na sua plenitude.

 

 Praia do Amado (vista a partir da Ponta do Castelo a noroeste)

 Praia do Amado (vista a partir da arriba a norte)

Praia do Amado (vista de sul)

 

Sabe-me bem disfrutar do silêncio desses lugares. Sozinha (ou bem acompanhada). Longe do bulício da vida e das praias massificadas. Distante das filas intermináveis e das “conversas da treta” nas esplanadas das marginais. Prefiro o contato com a natureza virgem (e selvagem) onde posso despir-me de preconceitos e entregar-me (totalmente) ao sonho e à meditação 

 

 Ponta do Castelo (a norte da praia do Amado)

"Povoado islâmico sazonal de pescadores" (Ponta do Castelo, Carrapateira, Aljezur)

 

A Praia do Amado (junto à Carrapateira, freguesia da Bordeira, no concelho de Aljezur) é um desses lugares onde, ainda, posso disfrutar de momentos inesquecíveis. No ambiente natural envolvente há lugares mágicos. Como o restaurante “Sítio do Forno”, perdido no meio de “nenhures”. Ali se podem comer umas maravilhosas “ameijoas à bulhão pato” e contemplar o pôr-do-sol no final da tarde…

 

Restaurante "Sítio do Forno"

 

Paraísos escondidos (e esquecidos) da maioria dos portugueses. Vale a pena ir, nem que seja por um dia.

Nas "Montanhas do Fogo"

A primeira vez que aterrei nas ilhas Canárias – em Fuerteventura – tive a sensação de estar algures no norte de África. Desde o clima à paisagem tudo lembra o continente vizinho. As praias de areia branca são raras. Tive a sorte de estar numa dessas praias maravilhosas (Jandia Playa) que integra os roteiros mundiais do windsurf. A estadia  para relax total (em regime tudo pago) acabou confinada à praia e pouco mais.

Numa segunda visita (ao citado arquipélago) optei por Lanzarote, conhecida por "Hawai da Europa". Tinha curiosidade em conhecer a ilha que acolheu durante vários anos o “nosso” nobel da literatura. Ali senti-me verdadeiramente turista. A capital, Arrecife, localizada na zona leste da ilha, é uma cidade incaraterística. Uma cidade vocacionada para o turismo de massas, igual a muitas outras. Foi preciso viajar pela ilha, contatar diretamente com a natureza para perceber a dinâmica local. Quem viaja para Lanzarote deve optar por locais mais afastados da capital se quiser conhecer o ambiente natural e socioeconómico. Adorei a zona norte da ilha. Ali a natureza está menos intervencionada pelo Homem. É (para mim) a parte mais bonita da ilha. Há pequenas vilas junto ao litoral com restaurantes e alojamentos magníficos. Além disso, a paisagem natural do norte é mais bonita e não tem os inconvenientes do turismo massificado. Há mais tranquilidade e sossego.

 

 

Uma das saídas (em carro alugado) com partida de Puerto del Carmen, quase permitiu a travessia da ilha. O destino: parque nacional de Timanfaya, também conhecido por “Montanhas do Fogo”. Uma autêntica "paisagem lunar". Uma paisagem mais inóspita mas nem por isso menos bonita. Um mundo gigantesco de lava e piroclastos. A visão é de tal forma arrebatadora que nos faz sentir vulneráveis. Pequenos (diria). Sentimo-nos parte do Todo mas não podemos Nada. Ali sente-se o pulsar do Planeta. O castanho e o ocre com laivos amarelados dos líquenes (que por ali proliferam) são os tons caraterísticos da paisagem. A vida que desponta, aqui e acolá, é ainda muito escassa e débil. A sucessão (ecológica) ainda “agora” começou. Da comunidade de seres vivos (organismos pioneiros) destacam-se os líquenes, os insetos e os aracnídeos. Aquilo a que chamamos pouca biodiversidade devido às condições ambientais ainda bastante adversas. Só o tempo ditará o futuro daquele deserto de lava.

 

 Parque Nacional de Timanfaya

 

A costa Teguise é outra zona que vale a pena visitar. Pelas praias e pela paisagem natural envolvente. Aqui destaco os Jameos del Agua (a norte) uma espécie de gruta natural. Um canhão (tubo) de lava cujo teto desabou originando uma abertura circular através da qual entra a luz do sol e que permite o acesso ao interior. Aí, lagunas de água transparente albergam uma espécie (endémica) de minúsculos caranguejos albinos e cegos, cuja origem se desconhece. No local há bar e restaurante e ainda um grande auditório para eventos culturais. Um local que merece uma visita. Antes ainda houve tempo para uma visita rápida ao Jardim dos Catos. Um espaço em forma de anfiteatro onde se podem ver dezenas de espécies de catos oriundos de todo o mundo. Magnífico para quem gosta destas plantas.

 

 Jardim dos Catos

 

 Jameos del Agua

 

 

Nota: a visita ao núcleo central de Timanfaya só pode ser efetuada de autocarro, a partir do Centro de Interpretação Ambiental do parque. Uma visita que recomendo, vivamente, a quem vá a Lanzarote.

Pego ou Carvalhal?

Duas praias semelhantes mas em tudo distintas (para mim, claro).

Localizadas no Carvalhal (Herdade da Comporta), concelho de Grândola, ambas as praias dispõem de um extenso areal (ótimo para caminhadas), mar calmo e boas infra estruturas de apoio. De um lado o mar, do outro as dunas, quais muralhas naturais. Recantos maravilhosos da nossa orla costeira que acolhem cada vez mais veraneantes.

 

 paisagem próxima do Carvalhal

 

Gosto de comparar lugares. Poder tecer comentários fundamentados. Para isso preciso de usufruir e de sentir os espaços. Estabelecer laços afetivos. Foi isso que aconteceu quando me sentei na esplanada junto ao mar na praia do Carvalhal. A presença do mar (ali tão perto) agradou-me. O mesmo não posso dizer da esplanada onde resolvi sentar-me e beber uma água. A decoração era “confusa”. Muito mobiliário a ostentar publicidade. Um ambiente pouco acolhedor que não proporciona o conforto que procuro. Lembrou-me turismo de massas. Sítios barulhentos e impessoais.

 

Posso estar totalmente errada mas é (foi) esta a impressão com que fiquei. Foi desta forma que os meus sentidos registaram “a outra praia”.

 

 acesso à praia

 

Por outro lado a praia do Pego. Muito limpa com uma envolvente muito arrumada e ordenada. Do areal (extenso), à água (de um azul quase turquesa) passando pelo ótimo apoio de praia, tudo é atrativo ali. O bar/restaurante Sal com uma decoração a preceito: alguns motivos náuticos, onde o branco domina pintalgado de azul e encarnado, revelam bom gosto na decoração. Uma praia requintada (diria), muito glamourosa. Perfeita. Um sítio onde apetece estar (sempre).

 

 praia do Pego vista a partir do restaurante Sal

 

Aguardo (ansiosamente) os dias mais quentes para voltar ali. Agrada-me a ideia de um lanche ajantarado com o mar ao lado e a Serra da Arrábida como pano de fundo. Um quadro idílico, para um final de tarde magnífico.

 

Restaurante Sal

praia do Pego (e Serra da Arrábida ao fundo)

 

Nota: ambas as praias estão integradas na Rede Natura 2000 devido à sua excelente qualidade ambiental e biodiversidade. Com vigilância (na época balnear), apoios de praia completos, acessos pedonais e estacionamento fáceis. Para quem prefira passar férias por ali tem à disposição unidades de alojamento de turismo em espaço rural e, também, muitas casas para arrendar no Carvalhal e arredores.

 

(Na) "Sintra do Alentejo"

De todos os textos que li no decurso da visita à Sinagoga, no bairro da judiaria, em Castelo de Vide, este foi o que prendeu a minha atenção: «O meu trabalho é feito de errâncias e de viagens, de uma constante procura e isso vem do judaísmo.» (Daniel Blaufuks, fotógrafo, 2004). Eu diria: o meu crescimento enquanto pessoa faz-se através do conhecimento, da procura constante da sabedoria do Mundo. Aproveito as viagens para desvendar segredos dos povos e suas tradições. Durante a visita à Sinagoga percebi (mais um pouco) a essência do povo judaico. Os seus usos, as suas crenças e tradições. Percebi que hoje (sábado) caso fosse judia, não poderia escrever este post, pois o sábado (Shabat) é um dia de descanso e reflexão espiritual. Um dia sagrado, durante o qual não se podem realizar determinadas tarefas, entre as quais, escrever. Mas como não sou nem tenho ascendência judaica aproveito o momento pós visita à “Casa da Assembleia” (outro nome dado à Sinagoga) para refletir e revisitar (mentalmente) a “Terra dos Cardadores”, nome dado a Castelo de Vide, com origem na comunidade de judeus que por ali permaneceu longo tempo e cujo principal ofício (entre outras atividades a que se dedicavam) era “cardar a lã”.

 

 Rua na Judiaria e placa no exterior da Sinagoga

 

Sentada no relvado junto à “Pedra de Alentejo” (uma escultura de rua), próxima das piscinas municipais, aproveito os últimos raios de sol do dia e repito (mentalmente) o percurso que acabei de fazer naquela a que chamam: Sintra do Alentejo. Muito próximo dali tenho a nítida sensação de um dejá vu: na travessia do frondoso jardim do parque, um velho e alto cipreste (e plátanos enormes) transporta-me aos parques da bela cidade. Mais à frente, o imponente casario de casas apalaçadas (algumas), que se ergue na pequena encosta à minha direita é, também, prova de tal semelhança. Também os pináculos das torres da igreja de Stª Maria da Devesa e o branco das suas paredes me fazem lembrar (imagine-se) o Palácio Nacional de Sintra. Semelhanças que os meus olhos (e a minha memória) querem ver. Tão simplesmente isso.

 

"Pedra de Alentejo"

 Igreja Stª Maria da Devesa (exterior e interior)

 

 

Detalhe da Igreja de Stª Maria da Devesa (em cima) e Fonte de Montorinho (em baixo)

 

Continuo “caminho” e chego à “Porta da Vila”. Ali hesito entre uma visita ao castelo ou o burgo medieval. Opto pelo burgo. As casas (quase todas de pequena dimensão) destacam-se pelas portas encarnadas e de arco ogival. Esta é uma característica da arquitetura local, dominante por todo o centro histórico, sobretudo, no burgo e na judiaria. As floreiras junto às portas e nos muros dão às ruas um colorido especial. Junto a uma das casas, uma pedra esculpida com duas caras (um casal) adorna a entrada. Questiono o seu significado e o porquê da sua presença ali. Imagino histórias, vislumbro afetos...

  

 "Porta da Vila" (em cima) e Burgo Medieval (em baixo)

 

 Porta e pedra esculpida no Burgo Medieval

 

Continuo e desço até à “Porta de S. Pedro” de onde avisto a vastidão da paisagem para ocidente. Detenho por ali alguns instantes. Aproveito e tiro fotografias. Regresso à “Porta da Vila” para visitar o castelo mas a hora (já tardia) impediu-me de concretizar tal intenção. Estava fechado. Lá ficaram os núcleos museológicos por visitar.

Desço agora até à judiaria (cuja visita haveria de concretizar no dia seguinte) e sigo até à “Fonte da Vila” um dos ex-libris de Castelo de Vide. Aprecio o pequeno monumento. A água fresca e cristalina que jorra intensifica-me a sede. É ótima (alguém me diz) e eu confirmo bebendo da mesma.

Continuo subindo e descendo ruelas, estreitas e íngremes, de calçadas floridas e chego à Praça D. Pedro V. Aqui e ali vou observando detalhes que me prendem a atenção. Acabo na loja da Sofia, onde comprei a famosa boleima (um bolo típico com maçã e canela).

 

 Praça D. Pedro V e monumento ao Músico

 

Loja da Sofia

 

Nota: mais haveria para contar... porque há muito para ver em Castelo de Vide (e arredores) dada a sua localização privilegiada: Parque Natural da Serra de S. Mamede.

 

 Panorâmica de castelo de Vide a partir da ermida da Srª da Penha

Na "rota do sabores" (8)

Um restaurante ou uma loja gourmet? Ambos coexistem no espaço da “Confraria”. Um conceito diferente que encontrei na rua de Santa Maria de Baixo (nº 10), às portas da “Judiaria”, no centro histórico de Castelo de Vide.

O espaço, gerido pelo casal Ramalho, que trocou Reguengos de Monsaraz (há mais de vinte anos) pelas Terras da Serra de S. Mamede, expõe, meticulosamente, todos os produtos à venda. Vinhos, azeites, queijos, compotas, biscoitos e bolachas de sabores diversos convivem harmoniosamente nos expositores. Os produtos, todos caseiros e de produtores locais e regionais, além de se destinarem a venda, são também consumidos no local por quem ali passa para almoçar ou jantar. Da decoração, muito a gosto, destaco os originais desenhos do balcão. As mesas são poucas mas suficientes para convívio em pequeno grupo. O ambiente, todo ele, convida à degustação. Foi essa a opção: um jantar de degustação à base de pratos de caça.

 

 

 De entrada uma tábua de queijos (de Nisa) e de enchidos da região acompanhados de um vinho branco muito fresco - Herdade do Sobro. Seguiu-se um
“arroz de lebre” (aromatizado com hortelã) solto e de sabor excelente que me captou o paladar à primeira garfada. Um sabor que vou guardar na memória nos próximos tempos. O repasto continuou com “perdiz de escabeche”. Igualmente deliciosa. Um tinto "Juromenha", levemente frutado, foi o vinho selecionado para acompanhar os pratos principais.

 

"arroz de lebre" e "perdiz de escabeche" 

 

No final e depois de uma degustação tão requintada (e diversificada) de sabores houve lugar para uma sobremesa de autor: “laranja à Confraria”. Uma mistura de sabores (tão diferentes) a conjugar na perfeição: laranja, azeite, canela e rebuçado de Portalegre. Original (pelo menos no que toca ao azeite e ao rebuçado) e muito boa também.

 

 "laranja à Confraria"

 

Além da excelente comida a Confraria oferece, ainda, um ambiente tranquilo e acolhedor. Familiar (diria) face ao atendimento personalizado e de grande proximidade que o Senhor Luís faz questão de proporcionar.

 

 Detalhes da Confraria

  

 

Nota: foi realmente um prazer jantar na “Confraria”, um espaço em plena “Rota dos Sabores” no Alto Alentejo. Aconselho vivamente a quem passar por Castelo de Vide.

 

Ponte(o) de encantos e desencantos

Sou da era dos sistemas analógicos. Do tempo em que os jovens não dispunham de internet (nem redes sociais) para ocupar os tempos livres. Quando o convívio entre os jovens era feito em tempo real. De partilha de momentos em grupo.

Desses momentos, únicos, recordo (entre outros) os “passeios à ponte”. Era, sobretudo, no verão, ao fim da tarde e/ou à noite, que esses passeios tinham lugar mais amiúde.

 

 Ponte sobre o rio Guadiana (Mértola)

 

Quem não se lembra das idas à ponte nas noites quentes de verão? Ali se contavam histórias, se teciam enredos, se cantavam serenatas, se viviam paixões. Local de encontros e desencontros. De paixões, amores incompreendidos, de falsidades até. Ali, longe de tudo e de todos, os jovens sentiam-se protegidos dos olhares indiscretos e da “censura social”. Por ali se afirmava o espírito sixty da época. Alguns desses jovens viviam noutros locais e regressavam nas férias trazendo consigo ideias novas, “ideias da moda” (como alguns lhe chamavam). O que agradava, sobretudo, àqueles que sem grandes posses não podiam sair e libertar-se, desse modo, das amarras da família e da sociedade.

Era, especialmente, nas noites de luar que os jovens, em grupos, dispersos pelo passeio da ponte, se entretinham com longas tertúlias, as quais se prolongavam madrugada fora. Muitas vezes, o som de uma viola ecoava mais além e o dedilhar nas cordas, quebrando o silêncio da noite, dava outro ritmo à conversa. Outros tempos, outras vivências. Tempo de partilha, tempo para os outros.

  

  Mértola vista da ponte (e tabuleiro da ponte em baixo)

 

E assim, a velha ponte sobre o Guadiana, elegante e majestosa, palco de recordações (boas e más), marcou a vida da juventude mertolense ao longo de várias gerações.

Os passeios, esses, continuaram (até hoje) mas com outro significado e sem o glamour de outrora.

 

 

Barcelona, a cidade criativa

Barcelona, a multicultural, multirracial e multicores cidade da Catalunha. Foi desta forma que os meus sentidos captaram aquela que é uma das cidades espanholas mais agitada social e culturalmente. Em cada recanto se respira arte e cultura. A cada avenida um edifício surpreende-nos. De estilo, muitas vezes eclético, a arquitetura da cidade é uma surpresa a cada instante. Se necessário, apelidá-la-ia de cidade criativa. Foram, sobretudo, as fantásticas obras de Gaudí (o grande e famoso arquiteto catalão) que contribuiram para o efeito. Salientam-se, entre outras, a casa-museu no parque Güell , Casa Batlló, La Pedrera  e a Sagrada Família. Para muitos a “Sagrada Família” é (diz-se) a obra mais emblemática (e enigmática) da cidade. Pessoalmente, considero a “ Pedreira” (como lhe chamaram os catalães na altura da sua construção) uma obra de arte grandiosa. Uma escultura na verdadeira aceção da palavra.

 

 Casa Batlló

 

 La Pedrera

 

Mas Barcelona também é conhecida pela sua vida cultural. A noite (la movida catalã) é boémia e agitada. Las Ramblas (no centro da Cidade Velha) é, de todas, a zona mais movimentada da cidade. Ali tudo acontece. A mais pequena extravagância existe ali (de certeza). Quem quer ser visto (e ver) vai às Ramblas. A animação é constante e as “novidades” é ali que chegam em primeiríssima mão. O percurso no local não demorou muito tempo. Rapidamente captei a dinâmica e o modo de estar ali. Não me fascinou (particularmente). Prefiro outros espaços (menos massificados) onde a tranquilidade domine e eu possa disfrutar do momento. Foi isso que fiz numa rua recôndita nas imediações da Cidade Velha que conflui na Praça de La Puntual. Aí jantei ao som de música de rua (sul americana, no caso) numa noite morna de agosto. Foi bom estar ali, calmamente, a observar as pessoas e tentar desvendar os seus segredos, as suas histórias. Manias de viajante.

 

 La Rambla

 

Lamento não ter tido tempo suficiente para explorar mais a cidade. No entanto, julgo ter apreendido a “alma da cidade”. Preciso voltar (quando não sei)! Agrada-me a vertente cultural de Barcelona e os Mega espaços por lá existentes, como a conhecida e monumental avenida Diagonal (onde qualquer viajante deve passear).

 

 Vista parcial de Barcelona

 

 

 Sagrada Família

Entre Glasgow e Inverness

Esta foi uma viagem mil vez adiada. Aconteceu no momento certo e na hora certa. Seriam necessárias mais algumas para conhecer melhor o país dos lagos e dos castelos (como lhe chamo), a Escócia. Também a descrição (aqui e desta forma) do que vi e vivi é muito redutora. Traduzir paisagens magníficas, locais idílicos, castelos históricos e lagos fantásticos por simples palavras não é fácil. De igual modo, descrever emoções e sensações é um ato complexo e exigente. São estas as razões que me levaram a resumir a minha aventura por terras escocesas num ou outro episódio mais marcante.

Opto pelo percurso Glasgow-Inverness. Na primeira, uma das cidades mais populosas da Escócia, permaneci pouco tempo. Aproveitei a estadia para fazer um reconhecimento muito genérico e sentir a cidade. Acabei nos cenários do filme: World Star Z (o qual acabei por ver em DVD neste inverno). Por sinal nada de especial (na minha modesta opinião). A segunda, a cidade destino (Inverness), é considerada por muitos uma das principais cidades das Highlands, as “terras altas da Escócia”, devido ao elevado nível de qualidade de vida.

 

 Glasgow (detalhes da cidade)

 

O percurso entre as duas cidades (com estadia em Inveraray e Fort William) durou três dias e duas noites. A distância, que varia em função do percurso selecionado, é de, aproximadamente, trezentos quilómetros. Viajar de carro (alugado no caso) foi uma boa opção pois permitiu paragens nos locais de maior interesse. A travessia, sempre nos vales, é verdadeiramente mágica. A primeira paragem, no lago Lomond e no Trossachs National Park, deixou-me imediatamente rendida à paisagem. Verde e azul são as cores dominantes. De vez em quando um castelo (quase sempre medieval) marca posição nos vales extensos e confere-lhes um cunho humanizado. As paisagens verdejantes, salpicadas de rebanhos e a enorme diversidade de lagos e florestas que se encontram dispersos pela região são a nota mais marcante do ambiente natural daquele país. Recordo-me (em especial) de um almoço num restaurante (à beira da estrada), junto a um lago com uma envolvente lindíssima, que me soube divinalmente. Tudo estava perfeito. O ambiente, a comida e o espírito de férias. Momentos que não se esquecem. Jamais.

 

Lago Lomond (foto acima e abaixo)

 Entre Luss e Inveraray

 

 Entre Inveraray e Fort William

 

 

 

Cheguei a Fort William (uma pequena cidade do litoral), sensivelmente, às quinze horas do dia 25 de agosto de 2011. Para trás ficaram lagos, montanhas, castelos e parques naturais magníficos. Depois de selecionado o alojamento, o Bed&Breakfast Constantia (muito acolhedor) dirigi-me, de imediato, para o centro da cidade. Sempre o centro (como habitualmente faço). Por ali, numa esplanada solarenga, beberiquei um chá (verde) e comi um scone muito “scotch”. Apesar do mês em questão, a temperatura era relativamente baixa para a época. Esqueci-me, totalmente, que as temperaturas na Escócia eram outras, para além de esquecer o itinerário já determinado: as Highlands. Precisamente o norte do país, onde as temperaturas descem ainda mais. Embora com sol preguiçoso a tarde tinha um brilho que convidava ao relaxamento e ao recolhimento interior. Foi o que fiz naquela esplanada aconchegada no meu corta-vento. Enquanto isso fui observando em redor e desvendando segredos. Respirei pacatez. Os espaços (todos) irradiavam paz e descanso. Um local sereno para umas férias tranquilas.

O resto da tarde foi destinado à descoberta de pontos de interesse na cidade e arredores. Entre eles o Castelo de Inverlochy. Um castelo medieval (século XIII) que embora em ruinas constitui atração turística junto à cidade na margem do rio Lochy. No final da tarde, ainda houve lugar a uma exposição de gemas e minerais num museu junto ao rio. Seguiu-se a habitual caminhada junto aos canais do rio. A noite terminou num restaurante italiano a comer uma pizza num ambiente bonito e descontraído.

 

 Fort William

 

No dia seguinte, parti em direção a Inverness, passando por Fort Augustus. Grande parte do percurso foi ao longo de Loch Ness (o lago Ness). Sim, esse mesmo, o do famoso monstro. Uma breve visita ao centro de interpretação e documentação (por sinal nada de especial), ajudou a conhecer um pouco mais as várias teorias, lendas e mitos do enigmático “habitante” do lago. A viagem prosseguiu com paragem no Urquhart Castle, um castelo medieval, localizado num promontório do referido lago. Local interessante (mas muito frequentado por turistas) onde houve lugar a uma pausa para café.

 

Urquhart Castle (foto superior)

 Lago Ness (visto a partir de Urquhart Castle)

 

A entrada na cidade de Inverness com muita chuva à mistura tornou o ambiente menos acolhedor à chegada. A rota mal calculada deu lugar a um percurso mais longo. Confesso que estava a ficar um bocado desiludida com o aspeto da cidade. Tudo por culpa da zona onde fui parar até acertar, finalmente, com a rua que haveria de me conduzir até ao alojamento. À priori o ambiente não me agradou particularmente. Talvez o cinzento do final do dia e a noite fria tenham contribuído para algum desconforto pessoal. À noite, enquanto caminhava, entre o restaurante e o alojamento, não encontrei ninguém. A partir das seis da tarde a cidade quase que hiberna. Pelo menos na zona próxima do centro histórico (onde fiquei). É raro ver pessoas nas ruas a partir do entardecer. Talvez por isso imaginei cenários fantasmagóricos e… senti algum receio. Chamei-lhe cidade fantasma. Opiniões. Valem o que valem.

 

 Castelo de Inverness

 Ciade de Inverness (vista a partir castelo)

 

A noite, muito tranquila, num Bed&Breakfast muito confortável, serviu para relaxar e ganhar energia suficiente para continuar a explorar as Highlands, agora via Caimgorms National Park, Pitlochry e Perth até Edimburgo.

 

 Caimgorms National Park

 

 Blair Castle (foto superior e inferior)

 

 

E foi para sul que a viagem continuou...

 

 

 

A surpreendente Valladolid

 Imaginava Valladolid uma cidade dormitório. Uma cidade comum sem qualquer cunho de personalidade. Uma cidade da rota dos emigrantes. Imaginei-a (erradamente) uma cidade sem atrativos, sem alma, igual a muitas. Mas, naquele dia, sair da rotina e ir viajar era motivo de sobra para ficar alegre e bem-disposta. O resto, pouco importava (no caso a cidade destino).

Parti em direção a Badajoz. Fronteira passada e eis-me na grande “autopista” com destino a Cáceres. Aí passaria a primeira noite (de três). Depois da logística relativa ao alojamento, parti de imediato à descoberta da cidade. Como habitualmente dirigi-me ao centro histórico. É aí, por norma, que calculo rotas, planeio visitas e disfruto dos sabores locais.

Depois de deambular por avenidas, ruas e vielas entrei na Plaza Mayor. Magnífica (exclamei). A luz ao final da tarde, com um brilho especial, dava aos edifícios que ladeiam a praça um ténue tom dourado. A sensação de estar ali no meio foi extraordinária. Por momentos senti-me em Sienna (Itália). Tenho esta tendência de revisitar (mentalmente) locais que me marcaram. Neste caso em concreto, foi a semelhança da arquitetura dos edifícios e da praça central que despoletou tal reação. Foi aí, também, ao som da música dos artistas de rua, que comi as tradicionais tapas.

 

Plaza Mayor (Cáceres)

 

No dia seguinte a partida fez-se bem cedo para evitar as horas de maior calor. Estrada fora em direção ao Parque Nacional de Monfragüe. Nos desfiladeiros, junto ao rio Tejo, houve lugar a uma paragem no emblemático local designado “Salto del Gitano”, para observação de aves de rapina (sobretudo abutres). O calor, imenso, não diminuiu o entusiasmo e a observação das ditas aves (com binóculos, claro) constituiu um dos momentos altos da manhã. Dali segui caminho, atravessando terrenos do parque. A paragem seguinte foi para almoçar umas deliciosas “costeletas de borrego grelhadas” (cujo sabor ainda guardo na memória) na Casa Rural de Monfragüe, um restaurante junto à estrada e junto ao Centro de Interpretação Ambiental do parque, onde se come maravilhosamente bem. Depois desta agradável paragem, esperava-me o magnífico Vale de Jerte (o vale dos cerejais como lhe chamei).

 

"Salto del Gitano" (Parque Nacional de Monfragüe)

 

Naquele vale, para além dos milhares de cerejeiras, a presença do rio Jerte confere ao local caraterísticas peculiares quer em termos geomorfológicos quer em termos climáticos. Aí, comi cerejas maravilhosas e disfrutei de um banho refrescante numa das inúmeras cascatas. Para não falar de toda a paisagem idílica da região. Valeu a pena a travessia do vale (a qual recomendo vivamente).

 

 Cascasta e cerejeira em flor (Vale de Jerte)

 

A chegada a Valladolid ao final da tarde foi verdadeiramente surpreendente. A expectativa inicial rapidamente se dissipou e a vontade de explorar cada recanto da cidade era enorme. Um cidade moderna, limpa, bem organizada e, fundamentalmente, uma cidade sustentável onde impera a qualidade de vida. Os responsáveis pela política local, pessoas empenhadas e com visão estratégica, têm como objetivo principal da sua gestão, tornar Valladolid uma cidade atrativa com elevado nível de empregabilidade, capaz de competir na economia global. Foi esta a noção com que fiquei depois de conhecer (ainda que muito superficialmente) aquela cidade. De resto, as fotos falam por si.

 

Valladolid (locais mais emblemáticos do centro histórico)

 

 

Nota: a primeira e a última imagem da sequência de fotografias da cidade de Valladolid dizem respeito à Plaza Mayor (uma das maiores praças de Espanha e que serviu de modelo para a construção das Plazas Mayores de Madrid e de Salamanca).

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