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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Preguiça... (novo apontamento)

Na (Corte Nova da) Preguiça, todos os espaços – despojados de luxos mas dotados de conforto – convidam ao lazer… uma simplicidade acolhedora.

Paz, sossego e descontração são sensações comuns ali. Ambientes convidativos que apelam ao descanso… preguiçar é a palavra de ordem. Até os animais domésticos são invadidos por uma onda de relaxamento e bem-estar...

 

 

Pela manhã, um pequeno-almoço, sem horas, sob o alpendre junto à magnífica piscina. Pão fresco (sempre), sumo de laranja acabadinho de fazer. Tudo envolto em muito mimo! Como o são os jantares (a pedido) que o amigo Zé prepara como ninguém. Uma fusão de sabores (da Terra e do Mar) que combinam na perfeição. Como a deliciosa “sopa de tomate com queijo de cabra fresco” que guardarei para sempre na memória. Para mim, uma das delícias gastronómicas da Preguiça. A não perder.

À noite a “paz dos anjos” convida a um sono profundo e relaxante.

 

 

Depois dos sabores, os sons do silêncio e da natureza... uma sinfonia de prazeres únicos, num espaço único no estar e no receber.

Uma sensação de bem-estar (familiar) que apetece prolongar no tempo…

 

Ser Mulher (hoje)

Longe de ser um post feminista, este, visa abordar um tema universal. Uma condição igual a muitas outras, com a particularidade de abordar temáticas mais vocacionadas para o género feminino. Porque sou mulher, apeteceu-me abrir a maleta das “coisas de mulheres” e partilhar opiniões, gostos, angústias, paixões. Um mundo de desejos muitas vezes oculto e reprimido.

Se na idade média, para não recuar mais além, a grande maioria das mulheres via o seu papel reduzido à reprodução e lida doméstica, a partir de meados do século XX, com as alterações sociais, a maioria das mulheres adquire qualificação, entra no mercado de trabalho e passa a disputar lugares de chefia com os homens. Uma luta que dura até hoje. A emancipação da mulher alterou o seu estatuto social. Torna-a mais ativa e consciente dos seus direitos, não permitindo a discriminação. Exige regalias entre os pares, demonstra capacidades e sentido de responsabilidade. Assume a liderança e, com ela, o respeito e a confiança de todos. A mulher de hoje vai à luta e não dá tréguas. Desdobra-se em múltiplas funções e assume cada uma delas com espírito de missão.

Se outrora era difícil “ser mulher” nos dias que correm mais difícil se torna. Há uma visão de perfeição extrema. A “fasquia” está muito alta (diria). Desde logo o aspeto físico. O culto do corpo generalizou-se e com ele a alteração do padrão de beleza física. É certo que os meios à disposição são outros e muito diversificados. A evolução das técnicas e métodos para travar o envelhecimento alterou grandemente o modelo de beleza padronizado. A própria globalização também contribuiu para as modificações introduzidas.

Há poucos dias, numa breve conversa com uma senhora brasileira, ainda relativamente jovem, dei por mim a falar de estética e beleza no feminino. Um mundo que sempre me fascinou desde miúda. Um mundo tão importante quanto outros que perfazem a nossa existência. Dizia a dita senhora: “No Brasil, você pode até passar sem comer, viver na favela, mas para cuidar do corpo, da pele e do cabelo você sempre arranja dinheiro… (…)”. Da realidade brasileira que conheço apreendi essa lição. No Brasil, há uma cultura do corpo e da mente muito diferente da nossa. Somos “cinzentos” dizem os brasileiros. A mulher cuida-se muito e preocupa-se com o aspeto físico. Felizmente por cá essa preocupação já começa a ser notória. Os ginásios proliferaram nos últimos anos, as dietas que apregoam milagres são mais que muitas, os tratamentos de beleza são mais frequentes, ir ao cabeleireiro e à manicura/pedicura é uma rotina instalada, as compras na internet eliminaram fronteiras e distâncias. O mundo da moda globalizou-se e entrou nas nossas casas. Também é verdade que beleza ganhou novos contornos. Há mais rigor e exigência com o aspeto físico do indivíduo.

Apesar das alterações de que há pouco falava, em Portugal ainda existe o costume de chamar fúteis às mulheres que se preocupam com o lado estético. Uma atitude social que considero redutora. Está provado (cientificamente) que um corpo harmonioso e saudável torna mais confiante a pessoa. E se estamos bem connosco mesmos, estamos bem com os outros. Não duvido que a nossa autoestima contribui para o nosso sucesso pessoal global.

Em termos pessoais destacaria outra vertente, a afetiva. A mulher valoriza (muito) os afetos. Sem dúvida que o tipo de relacionamento condiciona a forma como encaramos a vida. A submissão ao outro há muito que deixou de ser uma constante. Nos relacionamentos de hoje o espírito de partilha é a base da durabilidade e qualidade das relações afetivas. Porque a mulher trabalha a par do homem, exige, deste, igual empenho e envolvimento nas tarefas familiares e domésticas. Os jovens (homens) de hoje são formatados (socialmente) para essa forma de encarar a vida a dois. Estou plenamente convencida de que muitos divórcios da geração atualmente com 40/50 anos ter-se-iam evitado caso a mentalidade (e atitude) socio cultural fosse outra. A cultura da máxima: “a mulher é de casa e o homem da rua”, do tempo das minhas avós e bisavós foi completamente ultrapassada. E ainda bem. A liberdade de expressão global da mulher na segunda metade do séc. XX levou ao assumir de um estatuto completamente oposto. A mulher lutou, reivindicou e alcançou um estatuto pessoal e profissional digno de registo. A igualdade de oportunidades é a tónica na qual deve assentar a sociedade do futuro.

Mas “ser mulher” é fácil? Não. Digo-o com toda a convicção. Ser boa profissional, gerir a economia doméstica e a estrutura familiar nuclear, manter-se “jovem e bela” e evitar que a rotina se instale no casamento (ou outra qualquer relação afetiva) é difícil e dá trabalho. Mas, como em tudo na vida, sem esforço e sem empenho não serão alcançados os objetivos mínimos. A vida sem lutas não faz qualquer sentido. Ultrapassar obstáculos é uma constante da vida do comum dos mortais. Aguça o engenho e arte de vencer. Dá forças para prosseguir mesmo nos momentos mais difíceis. E, em casos extremos de dificuldade, o último dos recursos: o sonho. Sonhar sempre. Acalenta a alma e preenche vazios.

O mar e a ribeira… (na praia da Amoreira)

Na praia da Amoreira, no concelho de Aljezur, a ribeira e o mar, de mãos dadas, convergem de acordo com a maré. Uma união perfeita! Um lugar paradisíaco, do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, onde se pode disfrutar de prazeres muito distintos: o mar e a ribeira.

 

 

De acordo com as marés o ambiente na ribeira muda substancialmente. Na baixa-mar é possível visualizar grandes lagunas no extenso areal, cuja água, de um tom “verde-esmeralda” e uma temperatura ótima, atrai qualquer pessoa, até a menos dada a mergulhos.

No enorme areal (da praia ou da ribeira) há lugar para as mais variadas diversões, sem atropelos nem constrangimentos de espaço. Há liberdade de movimentos e de usufruto em paz e sossego.

Para os amantes do surf este é um lugar ideal. Além das condições naturais (ótimas) para a prática da modalidade, a praia dispõe de uma escola de surf. Tem, também, um bom apoio de praia com um restaurante/bar onde serve variadas refeições.

 

 

E para quem cuja perícia ou gosto não tenha diretamente a ver com o surf poderá optar por um banho mais tranquilo na ribeira da Amoreira. Ao lado, as dunas, com mais ou menos vegetação, conferem ao local caraterísticas peculiares.

 

 

Para além da paisagem natural envolvente, o ambiente na praia da Amoreira, em geral, é calmo e relaxante. Um lugar a não perder na costa vicentina.

Na "rota dos sabores" (10)

O sentido do paladar resulta, também, do olfato e fica (dizem) gravado no cérebro. A memória do paladar jamais se esquece se todos os sentidos (e mais algum) estiverem envolvidos. Foi precisamente isso que me aconteceu quando há poucos dias jantei no restaurante Gulli  Bistrot, próximo de Aljezur.

 

O espaço, recente, com uma decoração muito clean, de tendência moderna, onde não faltam focos de luz difusa, é muito acolhedor. Um espaço bem organizado e funcional que cativa.

Como cativa o cardápio à disposição que inclui, somente, delícias gastronómicas italianas. Na confeção dos pratos há um cuidado especial na escolha dos produtos utilizados. Sempre muito frescos e da produção local e regional, segundo palavras do cozinheiro (e dono) Luiggi.

 

 

 

A cozinha, de forte tendência mediterrânica, revela uma grande dose de criatividade. O Gulli não é um restaurante italiano no vulgar sentido do termo mas sim um conceito único de cozinha de autor com fortes raízes italianas.

A minha escolha recaiu num “menu de degustação” a conselho da casa, acompanhado de um espumante rosé (bem fresco). Uma fusão perfeita, diga-se.

 

 

De entrada um carpaccio de “vitela de Aljezur”. Fiquei indecisa nesta opção. Simplesmente, porque não gosto de carne crua. Não fosse a insistência do empregado a dizer que não me iria arrepender, não teria tido a oportunidade de provar algo tão saboroso. Sabor maravilhoso.

A seguir uma “tempura 30/40”. Uns camarões crocantes e estaladiços acompanhados de dois molhos excelentes.

Uns “cannelloni de porco preto” e um “Filet mignon” remataram aquele que considerei um verdadeiro “manjar dos Deuses”.

Para terminar e porque sobremesa sem “tiramisu” não sabe a Itália, eis a combinação perfeita: “tiramisu de manga” com coulis de frutos vermelhos. Excelente.

 

 

 

 

 

Descrever emoções é tarefa difícil, impossível diria. Descrever os sabores da comida do restaurante Gulli Bistrot,  na minha modesta opinião, é ainda mais difícil. As palavras tornam-se  redutoras  perante sabores únicos. Excecionalmente bom. Recomenda-se.

 

 

 

Nota: caso se deseje também servem refeições na esplanada, um espaço igualmente agradável.

E... (muito importante) o menu descrito custa 27€ e dá para duas pessoas.

(Coisas de que eu gosto) em Aljezur

Desde que descobri Aljezur que me rendi ao ambiente e ao estilo de vida da pequena vila algarvia. Há um modo de estar aqui que me cativa. Simplicidade no ser e no estar. Uma proximidade à natureza e às coisas simples da vida. A urbanidade e o mundo rural, lado a lado, numa existência pacata e perfeita.

 

 

Do que gosto em Aljezur?

Gosto da distância que me separa (pouca) de tantas praias maravilhosas da costa vicentina;

 

 

Gosto das manhãs com tempo para bebericar o café e ler o jornal;

Gosto de visitar (e apreciar) o mercado municipal. Deter-me na banca do peixe fresco ainda cheirar a maresia e nas bancas das frutas e dos legumes, um universo de sabores e cheiros;

Gosto do artesanato, sobretudo da cestaria. Adoro os cestos de cana (e de vime) que por aqui se fazem;

Gosto da comida e dos bolos tradicionais à base de batata-doce;

 

 

 

Gosto do espírito naturista que se vive por estas bandas;

Gosto da roupa descontraída dos surfistas;

Gosto de calçar havaianas e do cheiro do mar na pele;

Gosto da tranquilidade e sossego porque “há muito tempo… “;

Gosto da forma de viver ao ritmo da natureza… sem pressas, nem stresse.

 

 

Ambientes inspiradores (4)

Em Pedralva, uma aldeia tradicional do concelho de Vila do Bispo, vivenciei, hoje, o verdadeiro conceito de turismo de aldeia. Perdida algures no meio da serra algarvia, quase totalmente recuperada, a aldeia dispõe de 24 casas típicas, uma área comunitária, uma piscina e dois restaurantes. Um espaço aberto à natureza envolvente. Um lugar mágico onde se sente o verdadeiro espírito aldeão. Um lugar despojado da vida mundana mas, simultaneamente, muito próximo da modernidade no que ao conforto e serviços disponíveis diz respeito. Uma dualidade única. Diferente. Um espaço ideal para estar em família, para namorar ou, simplesmente, para ir jantar (ou almoçar) num ambiente rural atualizado.

 

 

Poucos quilómetros abaixo da Carrapateira, num entroncamento da estrada N268, visualizo a placa que indica a direção de Pedralva. Um quilómetro depois, entro na aldeia. Sinto-me expectante e curiosa. Desde logo, os arranjos exteriores revelam bom gosto e criatividade. As casas quase todas recuperadas apresentam uma decoração simples mas bem conseguida,onde imperam os objetos antigos restaurados. Um conceito inovador (diria).Tudo perfeitamente limpo e arrumado. Apeteceu-me ficar e disfrutar daquele espaço. Um lugar onde a ruralidade e a inovação se conjugam, proporcionando um ambiente descontraído e muito relaxante.

 

 

 

Prometo voltar em breve para passar um fim-de-semana. Hoje, a visita tinha outra finalidade: jantar. Fazia tempo que desejava comer no restaurante “Sítio da Pedralva”. Muito por influência dos media, diga-se, a bem da verdade. Decidi, finalmente, conhecer o tão falado “sítio”.

 

 

 

 

Da ementa, variada, a escolha torna-se difícil. Apetece provar de tudo. Para entrada opto por uns “croquetes de alheira com molho de pera bêbeda”. Uma fusão de sabores deliciosa!

 

 

Pouco depois, um “bacalhau no pão à Pedralva” acabaria por fazer jus à publicidade. Uma “cozinha criativa” e “evolutiva” diria. Ou não fosse este prato o resultado de um aperfeiçoamento (de anos) de uma ideia baseada em duas ou três receitas típicas de bacalhau. Muito bom.

Para terminar, uma “mousse de chocolate” igualmente deliciosa.

 

 

No final a certeza de que no “Sítio da Pedralva” se come divinalmente. Repito, divinalmente.

Depois desta magnífica refeição, um momento de descontração no bar da aldeia, contíguo ao restaurante e à receção, um espaço decorado a gosto, onde coexistem os mais variados objetos antigos.

 

 

Para terminar, uma referência ao atendimento personalizado, onde a simpatia e a atenção para com o cliente imperam.

Um lugar onde "há muito tempo...". Para repetir (logo que possível).

 

 

 

Nota: recomendo passar pelo menos uma noite em Pedralva. À noite, ao luar, a aldeia é mágica.

(O meu) refúgio de verão

 

 

Depois de atravessar Aljezur, viro à direita rumo a Monte Clérigo. Novamente. Outra vez (e sempre).Desde que descobri os prazeres do sudoeste alentejano e da costa vicentina que não prescindo deste refúgio, pelo menos uma vez por ano. Opto, normalmente, por vir aqui durante os meses de julho e/ou agosto. Nessa altura as temperaturas são mais elevadas e a probabilidade de apanhar bom tempo é maior.

 

 

Os dias passados na praia são magníficos! Água mais fria (como eu gosto) com ondulação moderada a forte, para tonificar a pele. Entre um mergulho e outro aproveito para ler, escrevinhar ou apenas preguiçar… afinal férias são isto mesmo: nada fazer e tudo aproveitar.

Às vezes nem apetece pensar. Como agora. E fico assim: a observar a encosta situada a sul onde o esparso casario se ergue em direção ao céu. Na ponta mais à direita a “casa verde” continua a seduzir-me e a provocar o meu imaginário. Sonho um dia passar férias ali…

 

 

 

Até lá, vou disfrutando de uma praia tranquila e de um mar revigorante. No final da tarde aproveito a maré baixa e vasculho todas as rochas e poças para observação da vida marinha. Búzios, ouriços, lapas, mexilhões, anémonas, algas. Uma biodiversidade digna de registo (fotográfico) que me prende a atenção e estimula o raciocínio. Penso nos meus alunos e no quanto apreciariam uma “aula viva” neste imenso laboratório natural…

 

 

 

 

 

A tarde chega. Uma leve neblina, que se arrasta do mar, diz-me que são horas de regressar a casa. Antes, um lanche ajantarado na esplanada do bar “A Rede” onde comi as deliciosas “lulinhas fritas com croutons de pão torrado”, uma das especialidades da casa que faço questão de comer sempre que ali vou (e que recomendo). Enquanto isso, vou disfrutando da paisagem e de um ambiente descontraído e muito calmo. Para terminar, uma “delícia algarvia”, um doce típico à base de figo, alfarroba e amêndoa.

 

 

É assim, em modo espírito natura, que o tempo flui em Monte Clérigo…

Salamanca (breve apontamento)

Salamanca é uma daquelas cidades que associo a vida académica, cultura e conhecimento. Um museu de arte e arquitetura. Uma cidade com alma, onde quero voltar (com mais tempo).

Nos subúrbios, a cidade é igual a muitas outras. Uma cidade tipicamente espanhola no que aos edifícios e ordenamento diz respeito. Uma cidade que não surpreende. Todavia, quando nos aproximamos do centro histórico, o coração da cidade, sentimos o palpitar do burgo e uma dinâmica absolutamente cativante. Em cada esquina somos surpreendidos pela imponência dos edifícios, pela beleza e harmonia arquitetónicas. Ali sinto-me em plena idade média. Há um misticismo no ar que prende os sentidos. Totalmente inspirador.

 

 Salamanca (detalhes do centro histórico)

 Salamanca (detalhes do centro histórico)

 

Apeteceu-me permanecer ali, por tempo indeterminado, a observar os encantos (e os recantos) da cidade. Não pude. Estava de passagem, sem tempo para grandes visitas.

Percorro rapidamente as artérias principais do centro histórico, vou à universidade e à catedral e acabo o périplo na Plaza Mayor. Percurso breve mas que valeu a pena.

 

 Catedral Salamanca (detalhes)

 

Plaza Mayor

Nota:uma cidade para visitar, com tempo, numa "escapadinha" de fim-de-semana.

Férias (de outros tempos...)

 

O mês de agosto lembra-me férias em família e com amigos. Os dias longos e a liberdade de ação, sem compromissos profissionais, geram um bem-estar incomparável com outros meses do ano. É um mês de férias por excelência. Apesar do hábito se manter, há décadas atrás algumas famílias passavam dois ou três meses de férias no algarve. Uns em casa própria, outros em casa alugada (normalmente a mesma casa anos e anos a fio) e outros, ainda, permaneciam no hotel em regime tudo incluído. Disfrutavam assim do mar, do sol e da vida mundana que o sul proporcionava. Agendavam jantares e almoços entre amigos e davam longos passeios na marginal, o “passeio das vaidades”, onde exibiam as tendências da moda. Outros, mais recatados e menos dados à exposição pública, ficavam por casa a descansar ou na varanda da casa a refrescar-se e a ver passar os veraneantes ávidos de movida e de vida social.

Havia alegria e convívio constantes. Os dias sem programa lúdico rareavam. Por vezes o programa fazia-se na própria praia, no bar da zona frequentada pela família e grupo de amigos. Aí se reuniam, todos quantos passavam o dia na praia, normalmente à hora do almoço, para mais umas horas de convívio. Às vezes o almoço prolongava-se demasiado e as crianças, já saturadas e ansiosas para mais uns mergulhos, acabavam fazendo tropelias. Ou a bola batia onde não devia, ou o toldo do vizinho era invadido para um joguete qualquer, entre outras peripécias.

No convívio entre amigos, além das petiscadas frequentes, havia tempo para longas tertúlias. As conversas no masculino giravam, por norma, em torno dos temas: desporto, carros, negócios e… mulheres (claro). Estas, mais dadas a fofocas, passavam mais tempo a falar dos filhos e das angústias da vida doméstica do que era suposto em tempo de férias. A criançada entretinha-se no café “da esquina” a jogar matraquilhos, um jogo que atravessou gerações e que ainda hoje desperta interesse. Desse modo, gastava a energia ainda disponível e assegurava uma noite tranquila de sono.

Antes do final das férias, havia sempre um dia dedicado às compras por terras de Espanha. Aiamonte (Ayamonte, como se diz em bom castelhano) era o destino. A travessia do rio Guadiana era feita de ferry a partir de Vila Real de Stº António, o local de embarque. Logo após a travessia o grupo dividia-se. Por norma os homens ficavam com as crianças para deixar as mulheres mais livres para as compras, dado serem normalmente estas as responsáveis pelo setor da economia doméstica de primeira linha: alimentos, produtos de higiene e limpeza, vestuário, etc.

Enquanto os homens se entretinham a procurar marisco fresco nos vários armazéns de revenda, as mulheres percorriam todas as lojas à procura das últimas novidades. No final do dia (ou da tarde, ou da manhã), depois do périplo completo e envoltas numa mistura de aromas florais fortes, carregavam os sacos das compras. Entre os vários produtos não faltavam o típico gel de banho, os cremes de rosto e corpo, os perfumes e as “famosas” alpercatas (de sola compensada), de atar à perna, muito usadas na época. Um dia (ou parte dele) bem passado e que todos os anos se repetia.

Com a livre circulação de pessoas e bens ir às compras a Aiamonte vulgarizou-se. Além disso, muitos dos produtos, antes inacessíveis em Portugal, passaram a constar das prateleiras de qualquer hipermercado, deixando de ser uma “novidade”. É caso para dizer que a globalização alterou hábitos e rotinas. Modos de estar (e de ser) que se alteraram fruto das mutações sociais e económicas. Vivemos outros tempos, outros ritmos. Melhores? Piores? Estas e outras questões levar-nos-iam para outros campos, outras problemáticas...

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