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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Amado - praia, surf e espírito natura

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 A estrada de terra batida indica o rumo certo: praia do Amado.

 Do alto da arriba vislumbro o oceano. Um mar de surfistas enfrenta as ondas. Jovens de prancha debaixo do braço, sobem e descem a arriba; há pranchas e fatos de surf estendidos nas rochas, junto ao mar – um cenário de vaivém constante que inspira e nos faz sentir jovens.

 No areal molhado as pegadas levam-me até à outra ponta da praia. Na escarpa rochosa, esculpida pelo mar e pelo tempo, sento-me durante alguns instantes. Dali aprecio as arribas do lado norte e o vale a oriente, entre montes de vegetação rasteira – uma natureza selvagem que emana sonhos e rebeldia.

 Gosto daquele espírito selvagem que se entranha e vicia, como o pó da estrada que conduz ao Amado. Uma descontração que paira no ar, dissipando mágoas e/ou tristezas. Só o Yin e o Yang em perfeita sintonia, e as melodias que entoam dos montes - ao cair da tarde -, que nos embalam e confortam a alma, trazendo paz e tranquilidade.

 A tarde espreita e o apetite é outro: provar a “cataplana de polvo com batata-doce” do restaurante Sítio do Forno, ali bem perto.

 

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Líderes vs Chefes

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 Cresci aprendendo que numa sociedade organizada há divisão pelo trabalho, onde alguns, pela sua capacidade do exercício da autoridade, poder de decisão e competências, comandam/dirigem outros, que neles depositaram a sua confiança ao nomeá-los (ou elege-los) como tal. Há quem lhes chame chefes; eu prefiro chamar-lhes líderes - aqueles que dirigem.

 Enquanto ser chefe pressupõe o exercício de um cargo, o conceito de líder reúne um conjunto de qualidades/aptidões/capacidades que o distinguem como um exemplo a seguir. Ser líder não significa, necessariamente, ser chefe; também o facto de alguém ser chefe, um cargo, não significa ser possuidor das características inerentes à condição de líder.

 Pelo contrário, os verdadeiros líderes não necessitam de exercer cargos de chefia para se fazerem notar; são por natureza pessoas especiais por se evidenciarem de modo espontâneo - que primam pela qualidade na sua forma de agir e em relação aos seus propósitos. É destes Líderes que o Mundo precisa! Não daqueles que, à custa da bajulação e da sede de poder, vão teimando em alimentar-se da ignorância e ceticismo alheios, dominando tudo e todos. Desses, o povo está cansado, farto.

 Talvez por isso os grandes líderes não são aqueles que são impostos aos olhos do povo, mas antes aqueles, que não parecendo líderes, são um exemplo e exercem, com naturalidade, sobre os “súbditos” uma influência extrema. Com dinamismo, poder e liderança vão trilhando caminhos - nunca antes desvendados - e cunhando projetos ímpares. A sua palavra chega-nos como uma força da natureza: robusta e pragmática; sem mas nem reticências; sem vaidades; uma palavra única e motivadora, autêntica e desprendida.

 O que queremos? Queremos líderes! Pessoas despojadas do “poder doentio”; pessoas resilientes, capazes de servir o povo na verdadeira aceção da palavra.

Cataplanas (da costa vicentina)

 Há uma tendência – cada vez maior – para inovar na cozinha, alterando os pratos ditos tradicionais e associando/ conjugando novos produtos e sabores.

 Tal como outro tipo de “modas”, também na confeção dos alimentos o sucesso se faz (ultimamente) à custa de uma cada vez maior criatividade do chef de serviço.

 Comi (há poucos dias) uma “cataplana de polvo com batata-doce, camarão e amêijoas” - no restaurante Sítio do Forno, Carrapateira - que merece destaque. A conjugação dos sabores resulta na perfeição. Apesar do sucesso (segundo o proprietário do restaurante), há pessoas que franzem o nariz quando se fala em “batata-doce e peixe”.

 Outra maravilha gastronómica merecedora de registo: "catapalna de peixe da costa" do restaurante O Paulo, na Arrifana. O tempero na conta certa, mantendo inalterados o sabor do peixe e do marisco super frescos.

 Com ou sem a dita raiz, as cataplanas da costa vicentina são verdadeiros manjares dos deuses. Peixe e marisco frescos da costa (rochosa) conferem-lhes um sabor intenso e único.

 Aprovadas (e a provar): “cataplana de polvo com batata-doce” do restaurante Sítio do Forno (Praia do Amado, Carrapateira) e “Cataplana de peixe da costa” do restaurante O Paulo (Arrifana, Aljezur).

 Ambas excelentes! Para além da vista panorâmica, sobre o mar, que ambos os restaurantes proporcionam.

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A "loja do Sr. Artur"

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 Há espaços que, de tão peculiares, nos transportam para outro tempo, outra realidade. Foi isso que me aconteceu quando, a pretexto de comprar uma garrafa de água, entrei na “loja do Sr. Artur”.

 Entrei, observei – durante algum tempo -, e só depois de rever algumas imagens guardadas na memória, encetei conversa com o proprietário – Artur O., que, com enorme simpatia e agrado, me explicou como é possível (ainda) manter, no atual contexto socioeconómico, este tipo de estabelecimento comercial: um misto de mercearia e retrosaria, onde se vende (e há) de tudo.

 “Depende da época” – referiu. “No inverno vendem-se mais lãs!” Embora resignado com a situação que se vive neste tipo de comércio (a retalho), está patente um brilhozinho nos olhos quando fala da loja no “antigamente”. E eu, curiosa e atenta, e num momento ou outro comovida (até), lá fui escutando a descrição detalhada da arquitetura interior do espaço, quando o mesmo pertencia aos antigos proprietários: o Sr. Eurico e a esposa Isabel Revez. Nesse momento, a memória parou-se-me no tempo: do pequeno compartimento de madeira – o escritório improvisado, o Sr. Eurico, sempre com um sorriso, saía para dar uma palavrinha de apreço aos clientes habituais ou para tentar vender algum produto. A esposa, sempre bem-disposta e extrovertida, lá ia supervisionando as vendas, enquanto deambulava atrás do balcão com um sorriso nos lábios - sempre pintados de vermelho.

 Hoje, a realidade é outra. O despovoamento acentuado do interior do país, nas últimas décadas, tem provocado repercussões negativas neste género de negócio; manter a “porta aberta” é cada dia mais difícil – na opinião do Sr. Artur.

 

 E foi assim… recordando o Passado, que o Presente se impôs aos meus sentidos.

 

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Manuel, o contrabandista

 De madrugada, o pequeno grupo de homens caminhava até ao desfiladeiro que conduz ao rio. Naquele sítio, a corrente e a profundidade permitiam a travessia para a outra margem. Manuel, à semelhança de outros contrabandistas, encontrara no comércio ilícito - entre Portugal e Espanha, uma forma de colmatar as dificuldades financeiras da família. Transportando na alma as agruras de uma vida nómada - sem eira nem beira -, partilhou angústias e dificuldades com as famílias em cujas casas pernoitou.

 O regime político vigente acentuava as desigualdades sociais; viviam-se dias difíceis. Em Espanha o cenário da guerra civil também não facilitava. O receio de ser encontrado em pleno contrabando era enorme. À semelhança de outros, Manuel dormia nos locais mais recônditos: sempre escondido do Mundo. O caminho fazia-se, sobretudo, durante a noite, para evitar a guarda civil – os carabineiros, como lhe chamava. Se tudo corresse bem, a transação efetuar-se-ia e na volta traria tecidos, sabão e faiança em troca de tabaco, café e bacalhau.

 Manuel tinha uma namorada com a qual mantinha um relacionamento sério. De casamento marcado, logo que ele arranjasse emprego estável, tudo seria mais fácil contrabalançar com o ordenado de Maria, professora regente.

 Na aldeia natal de Manuel vivia Francisca, uma rapariga da mesma idade mas com a qual nunca privara. Morena, de grandes olhos castanhos e longos cabelos negros, cativava todos quantos com ela privavam. Era a mais jovem de três irmãos. Fisicamente herdara da mãe os traços mais marcantes. Detentora de uma voz maravilhosa encontrou no canto o seu hobbie: nos bailes cantava à desgarrada, divertindo-se e divertindo todos em seu redor; emanava uma alegria contagiante. Certa noite, Manuel reparou nela e sentiu-se, de imediato, atraído. Nada nem ninguém conseguiu impedir a paixão avassaladora que surgiu entre os dois jovens. E como dois apaixonados esqueceram o mundo e as conversas delatoras.

 Maria, quando soube, acusou Francisca de traição. Esta, magoada e sem saber que Manuel tinha noiva, afastou-se e evitava todos os lugares possíveis de o encontrar. Evitou mas não conseguiu impedir que Manuel terminasse o noivado com Maria. Dois anos depois, Francisca e Manuel casaram numa cerimónia íntima e sem grandes festejos. Para trás ficara a experiência difícil de dez anos de contrabando e de muitas noites ao relento.

 O jovem casal dedicava-se agora à agricultura. Francisca, uma mulher de dotes múltiplos, ajudava nas lides agrícolas sempre que os afazeres domésticos lhe deixavam algum tempo livre. Um ano depois nasciam as primeiras filhas do casal – gémeas e prematuras. A dificuldade no acesso à assistência médica adequada, não permitiu a sua sobrevivência. Viveram apenas algumas horas. Francisca nunca aceitou as vicissitudes do momento e o desgosto marcaria para sempre a sua vida. Da jovem alegre e bem-disposta ficara apenas uma réstia: tornou-se uma mulher triste e circunspecta. Refugiava-se nos pensamentos, passando dias sem dizer uma palavra. Convenceu-se que tudo o que lhe acontecera fora obra do agoiro: recordava frequentemente as palavras de maldição de Maria.

 Francisca nunca esqueceu as suas meninas mas a juventude acabaria, sete anos mais tarde, por devolver-lhe a alegria da maternidade.

 Maria afastou-se, por algum tempo, da aldeia que a viu nascer. Voltou dez anos mais tarde para casar com um vizinho, que desde sempre morrera de amores por ela. Homem simples, pouco dado a convivências, passou de incógnito a “marido de professora”. Nunca tiveram filhos, e dizia-se na aldeia que Maria nunca esquecera o grande amor da sua vida: Manuel, o contrabandista.

 

Na "rota dos sabores" 16

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 À hora marcada, a chegada: restaurante “Casa Amarela”, em Além Rio. Como é hábito (quase) diário - para aquela margem - o percurso fez-se a pé. Uma oportunidade única de (re)ver a belíssima paisagem da vila museu, que, majestosa e imponente, se afirma na margem direita do rio Guadiana. Uma imagem marcante pela rara beleza, um quadro digno de apreço. Como merecedora de apreço é a decoração da “Casa Amarela”: muito clean e muito cosy. Um ambiente que nos transporta para outras paragens - longínquas, até. Tudo pensado (e planeado) na perspetiva do conforto e bem-estar do cliente.

 A mesa reservada no terraço - sobranceiro ao rio e emoldurado pela vila museu – reporta o espaço para um quadro impressionista. E enquanto aguardo a chegada da bebida - um rosé bem gelado, da produção local - vou saboreando a magia e o encanto do momento.

 A degustação de um buffet[1] de cariz mediterrânico com salpicos de cozinha de fusão deixou-me totalmente rendida. A entrada, uma sopa fria – gaspacho – seguida de um misto de saladas e “frango de escabeche” foi o mote para uma refeição muito especial, rica de sabores, mas sem nunca perder o cunho da tradicional cozinha alentejana. Seguiu-se um “bacalhau com espinafres à casa” que acompanhei com “salada de alface, maçã e nozes”. Por fim, e porque sou alentejana e adoro: “borrego assado no forno com alecrim” acompanhado de “arroz de cogumelos” e “batatas assadas com ervas aromáticas”. Delícias gastronómicas, confecionadas pela D. Odete - a cozinheira de serviço, sob a supervisão de Marta Luz, a proprietária – e que aconselho vivamente a provar.

 A sobremesa: “bolo de chocolate acompanhado de gelado de baunilha e coulis de frutos vermelhos” - uma ode ao paladar – finalizou um magnífico jantar no restaurante cuja vista panorâmica sobre a “vila velha” deslumbra e inebria os sentidos – mesmo aos menos românticos.

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Nota: pontuação máxima para a simpatia e profissionalismo no atendimento e uma excelente relação qualidade/preço.

 

[1] O restaurante também tem disponível um menu “à la Carte”.

Encontro

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Daqui

Recordando, voando parti!

Sobre este mar cantando,

As gotas salgadas no corpo entranhando.

Sobre este mar me guiando,

Pelo sorriso mágico dos teus olhos.

E sorrindo cantando chego até Ti,

Contra o gigante salgado lutando.

 

 

Nota: a foto foi tirada em Monte Clérigo, na Costa Vicentina (um lugar muito especial para mim).

 

Na Costa Vicentina (de novo)

Voltei! Mais uma vez. Um ano depois.

Aqui, onde o mar é mais azul e a maresia mais intensa e mais fresca.

A água (fria, como eu gosto) revigora-me o corpo e desperta-me os sentidos.

Desafiando as ondas, grupos de surfistas prosseguem, afoitos, mar adentro.

As toalhas dispersas no areal - ao gosto de quem está - evidenciam o ambiente (ainda) pouco humanizado: mais autêntico e mais natural.

Aqui não há toldos, nem palhotas, não há bares de mil cores. Não há feiras de vaidade nem desfiles de "modelos". Há descontração. Há espírito natura. Há Ser e Estar em tranquilidade, longe da agitação social. Aqui - onde o pôr-do-sol é mágico -, gosto de voltar. Sempre.

 

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(Ode) ao pescador

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O que vejo para além deste rio e para além destas águas?

Escarpas agrestes, esculpidas da Terra

Entes de alma, gritos perdidos na imensidão da noite.

Corpos cansados, de angústia feitos, remando lá vão

Sob o céu trovejante, clamando o pão, vidas perdidas e gastas no tempo.

Leva-me contigo, pescador!

E sobre as águas calmas da tarde, deixa-me ir beijando a natureza... até onde a vida me quiser.

 

 

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