Ao meio-dia na aldeia
Atravesso a peneplanície, sob um calor abrasador. À hora combinada chego à aldeia. No largo (único), uma carrinha, em jeito de mercearia ambulante. Cumprimento os presentes e pergunto onde se situa a sociedade recreativa. Dizem que é logo ali, ao lado. Estaciono o carro e instalo-me na sombra do telheiro defronte à porta. Numa mesa, quatro homens jogam à carta; outros dois, mais recuados, vão tecendo comentários avulso. Num pinheiro, junto ao casario, uma rola turca canta; no pátio, onde me encontro, um cão, de língua de fora, vai farejando por ali. Eu, sentada num banco junto à porta, fico observando e sendo observada; atenta e descontraída, a vivenciar toda aquela ruralidade, que tanto me apraz. Sons e diálogos familiares, que me transportam para outro tempo. E mais uma vez a saudade se instala, trazendo ao presente memórias, únicas e inesquecíveis. Reprimo a lágrima que intenta formar-se. Desvio o pensamento e concentro-me no quadro que os meus olhos veem: uma imagem onde a genuinidade, das gentes e dos sítios, se impõe. Uma autenticidade que (ainda) se sente e se vive em lugares recônditos deste concelho (e deste país).