Dei-me conta, um destes dias, de estar a fotografar portas, na "vila velha" (em Mértola), enquanto caminhava por ali. A variedade de estilos e cores das ditas "aberturas" não me deixou indiferente. Umas mais antigas, outras nem por isso.
Optei pela fotografia; outros há que preferem transferir o seu olhar para uma aguarela, um desenho a carvão, etc. Seja de que jeito for, com mais ou menos beleza, as portas sempre constituíram um elemento fundamental da estética arquitectónica; uma fronteira entre um domínio público e um domínio privado.
Em simultâneo, e enquanto os olhos observaram, a mente construiu narrativas, que a memória foi ilustrando: o tempo das conversas entre vizinhos, no poial da entrada, nas noites de verão... das mães a espreitar nos postigos, enquanto a criançada brincava às escondidas, nos becos... das velhotas na soleira, à espera de um bom dia... verdadeiras molduras, de quadros cada dia menos realistas; testemunhos de relações sociais saudáveis; resquícios de outra época - a do tempo do convívio ao ar livre (sem redes sociais, nem videojogos).
Uma miragem, nos tempos atuais, que os mais saudosistas vão recordando...