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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Para lá dos montes...

(...) Onde o horizonte rasga a paisagem, há um mundo desconhecido que fascina. Cenários que os olhos imaginam e a mente vê: uma forma de invocar o incógnito por via do momento. Um momento (único) que o entardecer traz consigo; o tempo em que o sol diz adeus ao dia e cumprimenta a lua. Tempo em que o silêncio e a tranquilidade reinantes trazem magia ao instante.

Um quadro bucólico, onde a esperança e o sonho prevalecem, aliviando os dissabores do dia. Longe de tudo e de todos. Só eu e o rio construindo sonhos de desejos ocultos... porque “todos temos um segredo fechado à chave nas águas-furtadas da alma”.

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Uma (simples) caminhada no campo

Num lado o rio e no outro o pinhal. Entre as azinheiras caminho, inalando o ar fresco da tarde.

Há um fascínio adicional nesta natureza, que percorro. Um arrepio de alma nas notas do perfume de uma flor, uma sinfonia no chilrear da passarada. Aromas e sons que embalam e remetem à tranquilidade e ao sossego. E penso: felicidade é isto - sentir a natureza a entranhar-se e a comandar os sentidos, numa alquimia de emoções que apazigua e relaxa.

Afastada do ruído urbano e em plena natureza, vivencio mais uma inebriante experiência sensorial. Tudo isso enquanto a memória voa e o sonho comanda.

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Ao meio-dia na aldeia

Atravesso a peneplanície, sob um calor abrasador. À hora combinada chego à aldeia. No largo (único), uma carrinha, em jeito de mercearia ambulante. Cumprimento os presentes e pergunto onde se situa a sociedade recreativa. Dizem que é logo ali, ao lado. Estaciono o carro e instalo-me na sombra do telheiro defronte à porta. Numa mesa, quatro homens jogam à carta; outros dois, mais recuados, vão tecendo comentários avulso. Num pinheiro, junto ao casario, uma rola turca canta; no pátio, onde me encontro, um cão, de língua de fora, vai farejando por ali. Eu, sentada num banco junto à porta, fico observando e sendo observada; atenta e descontraída, a vivenciar toda aquela ruralidade, que tanto me apraz. Sons e diálogos familiares, que me transportam para outro tempo. E mais uma vez a saudade se instala, trazendo ao presente memórias, únicas e inesquecíveis. Reprimo a lágrima que intenta formar-se. Desvio o pensamento e concentro-me no quadro que os meus olhos veem: uma imagem onde a genuinidade, das gentes e dos sítios, se impõe. Uma autenticidade que (ainda) se sente e se vive em lugares recônditos deste concelho (e deste país).

O cantinho ideal para um café...

Em pleno largo, a olhar o rio, na "loja da Marta" (como é conhecido entre amigos) encontrei o cantinho ideal para um café comigo mesma; um espaço para aqueles dias em que apetece estar no Agora, sem (muitas) interferências externas.

Um espaço acolhedor, com toque de personalidade: Alemcante (em Mértola) - a "minha" coffee shop do momento.

 

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Pôr-do-sol no Alentejo

Teria (julgo) os meus doze anos, quando escrevinhar sobre emoções e sentimentos se tornou um hábito: numa espécie de diário, registava palavras soltas sobre os pensamentos mais íntimos. Desde essa altura, que me lembro do efeito benéfico do pôr-do-sol, no meu estado de espírito. Ainda hoje, essa influência perdura: adoro a luz dos amantes e dos encontros românticos; a luz da fantasia da primavera da vida; a luz dos sonhos efémeros; a luz da tranquilidade dos campos, à tarde, no Alentejo. Adoro o pôr-do-sol.

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A casa verde

Desço a encosta, em direção à praia, e ali está a casa verde - a "casa do escritor", um retiro envolto em magia (e mistério), que habita o meu imaginário, desde a primeira vez que a avistei. Ali vive alguém especial. Penso. É um homem livre, mas solitário, que todos os dias, ao final da tarde, desce ao areal e caminha na praia deserta, até o sol se pôr para lá do oceano. À noite, no corpo entranhado de maresia, sente ausência e desejo; desejo reprimido, contido, ignorado tantas e tantas vezes. Sofre na escuridão dos dias e das noites, fazendo da escrita o seu refúgio de angústias.
Quando a lua espreita, por entre as dunas, o corpo cede ao desejo e juntos dançam, ao som das ondas, uma dança de corpos sequiosos do tempo de espera. Enquanto dançam, sob o olhar das estrelas, há uma áurea de esperança no seu olhar que logo se apaga, quando o luar se esvanece e a aurora irrompe. O regresso trá-lo de volta à realidade: a solidão, na velha casa da arriba; o lugar onde um dia desejou viver a paixão de uma vida.
Foi assim, desde a primeira vez que a vi, que sempre fantasiei a casa verde da costa vicentina. Um sonho que ontem se desvaneceu, quando me abeirei da mesma. O desmazelo no pátio deixou-me, posso dizer, desiludida. Talvez triste, seja a palavra mais certa. Afinal, a casa do meu imaginário, não passa de um albergue de verão, pouco cuidado. Que pena!

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Feriar em modo zen

Férias: tempo para deixar o corpo ditar as regras, no que diz respeito a horas de sono e/ou de alimento. Dias em que o verdadeiro tempo é aquele que passa sem darmos conta, porque estamos deveras relaxados; dias dedicados ao nada pensar, nada fazer; dias para esquecer de conjugar os verbos no passado ou no futuro, apenas verbalizar o momento presente, porque o amanhã chegará sem pré-aviso; por isso, aproveitar ao máximo é a palavra de ordem, quando se trata de descansar. Há quem aproveite as férias para viajar, conhecer novos destinos, outros costumes. Também gosto (e também o faço, quando posso) mas prefiro, sem dúvida, relaxar num ambiente descontraído e despojado de pretensões e/ou exibicionismos de qualquer índole; lugares longe dos olhares indiscretos e da curiosidade alheia; lugares onde a paz de espírito e a proximidade à natureza ainda coexistem. Só nesses ambientes posso dormitar sobre a areia (quente) da praia, ao final da tarde, enquanto a brisa (fresca) do mar me beija a pele... Lugares que promovem a quietude da mente e o repouso do corpo. E tudo isto ao sabor do tempo, apenas permitindo que a imaginação esteja presente e vá tecendo enredos (com finais felizes, de preferência).
É assim, que as férias acontecem, na costa vicentina: um feriar em modo zen. Digo eu.

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A caminho da ribeira

 

Chego à aldeia, quase ao entardecer. O silêncio quebra-se quando atravesso o casario, em direção à ribeira: um cão que ladra vem ao meu encontro; dirijo-lhe meia dúzia de palavras e um gesto de afeição. Nada temo do velho animal, cansado da mudez dos dias...
Prossigo a caminhada, sentindo em comunhão o corpo e a mente, enquanto inalo os aromas do campo. No pinhal, a voz do vento sussurra-me ao ouvido uma melodia que evoca saudade... No lado oposto, o pio de uma ave desfoca-me o pensamento. Fico atenta; perscruto angústia naquele canto. Um pouco mais à frente, um coelho saltita no pasto ressequido, para logo desaparecer, por entre as estevas da berma do caminho... Ando mais um pouco, até o sol se esconder atrás do monte.

A caminho da ribeira... sinto-me una com a mãe-Natureza e inundada de uma paz única, que se vivencia nos campos do Alentejo.

 

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Domingo de inverno

É domingo. Na vila (como na cidade) os domingos de inverno são, por norma, tranquilos e dados à melancolia; dias de silêncio e recolhimento. Gosto e não gosto dos domingos. Nestes dias, procuro um recanto que me deixe beber um café comigo mesma. Hoje escolhi o Além Cante, no Largo Vasco da Gama. Ali, à entrada para a "vila velha", ao domingo, no inverno, o espaço permite-me estar, tranquilamente, a ler e a bebericar o café... Lá em baixo, o rio. Corre lento, ausente, consigo mesmo. Transporta na alma histórias de outro tempo, histórias que o tempo gravou na memória das gentes. Também aqui, de onde a vista alcança, percorro um caminho de ausência: percurso sinuoso, onde o sonho me acompanha e conduz. Nessa ausência, embarco no delírio da imaginação construindo arco-íris de afetos. Apesar da ausência, a presença da esperança vai compensando o vazio que se vive por aqui... Olho em redor, ninguém. Mais um dia cinzento de ausência, mais um domingo do meu (deste) inverno.

A pastelaria francesa

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Saio de casa, rumo ao bulício da cidade. O Amoreiras Plaza espera-me. Ali, onde Lisboa mora, há um espaço renovado: o Kaiser (E. Kaiser, o artisan Boulanger), uma pastelaria francesa. Um espaço mais amplo, com mais pessoas, mais agitação, mas o ambiente acolhedor de sempre. Um sítio bonito para "beber um café comigo mesma" ou para trabalhar. Gosto de estar na esplanada! Sinto-me acompanhada, mesmo estando sozinha. Os clientes (habituais) continuam fiéis. Vejo as mesmas caras, os mesmos "quadros emocionais": o "professor de Francês", "o menino e a explicadora", os "meninos do liceu francês", os "executivos apressados", o "leitor do jornal"... De todos, "o menino e a explicadora" é aquele cuja presença me causa uma ternura imensa. Um quadro vivo, cujas "nuances" me reportam para laços familiares muitos especiais. Gosto do que vejo, e fico feliz quando constato que ensinar (ainda) é uma forma de dar e receber afetos. No ambiente do Kaiser Amoreiras sinto a Lisboa dos nossos dias: cosmopolita, agitada, impessoal, moderna e irreverente.

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