Aos vinte anos a paixão pela caça deu sinais: ambicionei tirar a carta de caçador. Mas a família – em discordância – haveria de me dissuadir desse sonho. Hoje, para além do gosto pelo conhecimento da biologia e dinâmica das espécies cinegéticas, continuo a ficar fascinada com todos os rituais associados à caça: o contato com a natureza, o encontro e convívio com os amigos e a própria degustação das especialidades gastronómicas afins. Há uma filosofia e um modo de estar muito peculiares no caçador nato. Desde logo a escolha da própria arma, sua manutenção e limpeza. Há uma atenção e cuidado especiais com o fuzil - muitas vezes personalizado e/ou herdado de antepassados, também eles caçadores. Outro aspeto que me cativa: o amanhecer no campo. Geralmente as caçadas começam cedo, pelo que urge - atempadamente - tratar da logística associada à jornada: sorteio de “portas” e definição de estratégias do grupo. Isto, sem nunca falhar o café da manhã – normalmente, ainda de madrugada - para acordar os sentidos mais adormecidos.
Também o respeito pela natureza é algo que o verdadeiro caçador não descura. Contrariamente à mensagem que a opinião pública faz passar. A caça, para além de ser uma atividade de desporto e lazer, ocupa um lugar de destaque nas economias locais.
Os caçadores e os gestores dos recursos cinegéticos são pessoas, por norma, preocupadas com a manutenção dos ecossistemas em causa. Gerir de forma sustentada aqueles recursos é seu predicado (salvo as devidas exceções, naturalmente).
Todavia, dizem os entendidos: “a caça já teve melhores dias”. Subjacente a esta visão, mais negativa, está a preocupação com as doenças (sobretudo do coelho-bravo), a redução do número de efetivos de algumas espécies, a falta de controlo na introdução de espécies exóticas e as taxas aplicadas à atividade cinegética.
Apesar dos vários constrangimentos, estes “amantes da natureza” continuam a investir e a fazer da caça uma atividade que mobiliza centenas de pessoas.
Nota: é este espírito e esta filosofia de proximidade à natureza que os organizadores da Feira da Caça de Mértola (já na sua V edição) promovem e dinamizam - anualmente, nesta altura.
Esta feira - um dos mais importantes eventos da vila museu - para além de promover os recursos cinegéticos locais, acaba por valorizar, também, outros produtos. No espaço - onde decorre a maior parte das atividades no âmbito da feira - há tendas onde se vendem e divulgam diversos artigos: armas, roupa e calçado para caça; caçadas; vinhos, queijos, pão e mel; pequenas máquinas e utensílios agrícolas, entre outros. Há, ainda, várias tasquinhas para degustação das especialidades gastronómicas de caça (e outras) e animação musical muito variada.