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Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Escrita ao Luar

Um blog de “escrita” sensitiva e intimista sobre (quase) tudo... e com destaque para: viagens, ambientes inspiradores e gastronomia.

Para lá dos montes...

(...) Onde o horizonte rasga a paisagem, há um mundo desconhecido que fascina. Cenários que os olhos imaginam e a mente vê: uma forma de invocar o incógnito por via do momento. Um momento (único) que o entardecer traz consigo; o tempo em que o sol diz adeus ao dia e cumprimenta a lua. Tempo em que o silêncio e a tranquilidade reinantes trazem magia ao instante.

Um quadro bucólico, onde a esperança e o sonho prevalecem, aliviando os dissabores do dia. Longe de tudo e de todos. Só eu e o rio construindo sonhos de desejos ocultos... porque “todos temos um segredo fechado à chave nas águas-furtadas da alma”.

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No hotel D'Alcoutim

Cheguei, num daqueles dias de inverno em que só apetece "estar em casa", no quentinho, a ler, a ver um filme, a fazer zapping. O dia estava frio, mas o sol dava um brilho especial ao ambiente, tornando tudo ainda mais bonito, e acolhedor, no hotel D' Alcoutim: uma janela virada ao rio Guadiana; um espaço de bom gosto, onde os clientes são recebidos com profissionalismo, e muita simpatia, pelos anfitriões Marta Simões e Luís Palma. Os espaços, para além de confortáveis, apresentam uma decoração moderna, onde a dominância das cores azul e branco, remetem aos tons da náutica envolvente; um ambiente em harmonia com as águas calmas e serenas do rio, onde descansam veleiros de outros mundos.

Para além dos espaços (interiores e exteriores) que o hotel oferece - e que permitem descansar tranquilamente, há mais para usufruir na vila raiana de Alcoutim: caminhadas, visitar o castelo e/ou os monumentos megalíticos do Lavajo (Menires de Lavajo I e Menires de Lavajo II), dar um mergulho na praia fluvial do Pego Fundo, fazer um passeio de barco no rio... etc., etc.

E se a vontade quiser e o desejo apetecer, é só embarcar num dos táxis fluviais, ancorados no cais da vila, e ir até Sanlúcar de Guadiana: a pitoresca vila do outro lado do rio, onde se podem degustar umas tapas e beber "una caña", a contemplar o pôr do sol...

Pelo silêncio, pela paz, pela tranquilidade e pelo pequeno-almoço maravilhoso (cujo cardápio é da responsabilidade da nutricionista Marta Simões), recomenda-se, vivamente, uma estadia neste hotel.

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(Ode) ao pescador

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O que vejo para além deste rio e para além destas águas?

Escarpas agrestes, esculpidas da Terra

Entes de alma, gritos perdidos na imensidão da noite.

Corpos cansados, de angústia feitos, remando lá vão

Sob o céu trovejante, clamando o pão, vidas perdidas e gastas no tempo.

Leva-me contigo, pescador!

E sobre as águas calmas da tarde, deixa-me ir beijando a natureza... até onde a vida me quiser.

 

 

Na "rota dos sabores" 13

 

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 Abrir a janela pela manhã e ver o sol, inspira-me! Os dias solarengos de inverno empurram-me para fora de casa. Nestes dias - sobretudo ao domingo - aproveito para disfrutar dos lugares e sítios mais recônditos do meu concelho.

 É (quase sempre) no campo que disfruto, em pleno, dos prazeres simples da vida. Procuro lugares mágicos, onde a relação entre o Homem e a Natureza se intensifica e harmoniza numa simbiose total. Aí me liberto do stresse da vida e tranquilizo a mente.

 Foi esse registo que me conduziu para um almoço à beira rio - no silêncio do vale do Guadiana - no restaurante O Pescador do Guadiana (na Penha da Águia) - um estabelecimento familiar, cuja simpatia no atendimento nos faz sentir em casa.

 Com uma vista panorâmica magnífica, a partir da varanda sobranceira ao rio, o restaurante tem à disposição diversos pratos à base de peixe: “ensopado de enguias”, “barbo no forno”, “caldeirada de peixe do rio” e a famosa “lampreia do Guadiana”. Os apreciadores de carne podem optar por “cabrito assado” e/ou “estufado de javali”. Em qualquer dos casos, a mão sábia da cozinheira de serviço encarregar-se-á de tornar o almoço (ou o jantar) num momento de degustação especial.

 Foi ali, num ambiente repousante e tranquilo, que saboreei um dos pratos de peixe disponíveis no cardápio: ensopado de enguias. Uma delícia gastronómica! As enguias (sempre frescas) capturadas pelo proprietário, nas águas límpidas do rio, estavam divinalmente bem confecionadas. Um dos pratos que recomendo vivamente – aos apreciadores, claro.

 Entre um dedo de conversa e a contemplação da paisagem, o sol escondeu-se e a tarde avançou sobre o pequeno povoado anunciando a hora da partida.

 No final, uma visita ao “porto de embarque” para tirar mais umas fotos e apreciar o rio, ali, bem pertinho…

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NOTA: o restaurante O Pescador do Guadiana, localiza-se em Penha da Águia, na freguesia de Espírito Santo, concelho de Mértola. É aconselhável telefonar antes de ir. Telefones: 286 675 417; 967 747 320.

 

 

Rio acima...

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 Lá longe o som do motor - quase silencioso -, anuncia o início da faina. Lentamente a pequena embarcação afasta-se, rio acima, nas águas calmas da tarde. Enquanto isso, eu, sentada na escarpa da nora, aceno ao casal de pescadores.

 Pouco tempo depois, o motor desligar-se-á; a D. Antónia começará a remar, enquanto o marido lançará o tresmalho[1]. Se as condições meteorológicas ajudarem talvez a pescaria resulte e valha a pena o sacrifício de mais uma noite ao relento.

 Mas por vezes o temporal não facilita e a noite termina cedo - debaixo do velho oleado ou na casa mais próxima. Lembro-me (na perfeição) de ver chegar o Sr. Álvaro e a esposa (a falecida D. Antónia) à casa da minha avó (mais tarde a casa dos meus pais) quando o tempo não ajudava e o regresso se antecipava; o que acontecia com alguma frequência no inverno.

 A sua chegada quebrava as rotinas da casa e animava as hostes. Sempre bem-disposto, o Sr. Álvaro lá chegava com um muge (ou mais) dentro de um saco – às vezes na própria mão -, para oferecer aos da casa. Entre uma conversa e outra - junto à lareira -, a sua presença era sempre uma alegria.

 Como a alegria que os pescadores incutiam ao rio com as suas lanchas coloridas. Cenas de uma vida difícil que a resiliência e o empreendedorismo colmatavam.

 A arte da pesca, que, há séculos constitui um meio de sobrevivência de muitas populações ribeirinhas, tem vindo progressivamente a decrescer. Alguns pescadores, de entre os mais velhos, já partiram… outros há que, alegando questões de vária ordem, abandonaram a atividade; os que restam deparam-se com muitas dificuldades e na maioria dos casos a pesca é, agora, uma atividade paralela.

 Apesar de tudo, de vez em quando, nas águas calmas da tarde, avisto uma lancha. E penso: ainda há pescadores no rio Guadiana. Poucos, mas há. A paixão pelo rio continua e nós – mertolenses -, agradecemos-lhes.

 

 

[1] Uma espécie de rede, usada durante todo o ano, cujas caraterísticas variam em função da espécie de peixe a capturar. Há tresmalhos para muge (tainha), saboga, barbos, bogas, achigãs, etc.